quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Aleppo, Damasco e Palmyra: bem mais do que a hospitalidade síria na entrada ao mundo árabe


Guerras, conflitos e problemas políticos atuais à parte, a Síria tem bastante coisa interessante para oferecer a um viajante. Muitos mais do que especificamente um ponto turístico, o conjunto de construções históricas e a atmosfera de uma região que abrigou antigas civilizações dão um tom exótico ao lugar. A simpatia e hospitalidade do povo local (coisa que eu mais li nos guias antes de viajar) misturada com cultura, costumes e religião bem diferentes da realidade que nós estamos acostumados também contribuem para uma viagem bastante curiosa por lá.
No mochilão que fiz entre setembro e outubro de 2011, a Síria foi o ponto de entrada ao verdadeiro mundo árabe, islâmico, depois de passar por um “ensaio” na Turquia. Foram três noites no país, entre Aleppo, Damasco e Palmyra, o que incluiu visita a diversas mesquitas, mercados típicos, ruínas históricas e, claro, substantivos cotidianos dos sírios, como narguilé, chá, esfiha, buzina, Alá...

Vindo da Turquia, cruzamos a fronteira em Bal al-Hawa, saindo da cidade turca de Antakya rumo a Aleppo, viagem que durou umas 4 horas. É possível fazer o trajeto de ônibus, mas pelo horário acabamos pegando um táxi compartilhado, o que acabou saindo muito mais caro. A vantagem é que o mais caro na Síria não é tanto assim, já que as coisas são absurdamente baratas por lá: 80 pounds sírios equivalem a 1 euro.
Aleppo - Chegando em Aleppo, a primeira impressão é de caos total. Tudo cinza, poeira, buzinas, trânsito maluco, todas as placas naqueles rabiscos que eles chamam de letras e um bando de Mohamed falando lalalala com você. Mas aos poucos você vai se acostumando. O segredo é não se estressar, o que confesso que às vezes é difícil. Ao mesmo tempo que existem muitas pessoas querendo te ajudar e agradar, existem outras (geralmente as com pouca formação e educação, como alguns taxistas e prestadores de serviço em geral) querendo te passar a perna, ganhar dinheiro em cima e coisas do tipo. Nada tão ruim como no Egito, o pior lugar nesse ponto, mas ainda assim é bom sempre ficar esperto.

Ficamos no hotel Kaser Alandaloss, bem central, quarto duplo, mas sem banheiro, por 250 pounds sírios (4 euros) a diária por pessoa. Pelo preço, não dá pra reclamar das condições. Bem aceitáveis.
Mas o que tem pra fazer em Aleppo? Vamos lá. É uma cidade bastante conservadora, com mais mulheres todas de preto com aquelas burcas que só não cobrem os olhos do que em qualquer outra das principais cidades da Síria. As principais atrações são: o Souq al-Attarine, o Great Mosque e a Citadel, todas elas localizadas na Old City e facilmente acessíveis a pé.
O Souq nada mais é do que um mercado ou bazar gigante, formado por um labirinto de pequenas ruelas e becos estreitos com diversas lojinhas de produtos típicos. Vende-se de tudo que se pode imaginar: roupas, perfumes, cosméticos, joias e bijuterias, comidas, vários temperos e sementes. O cheiro do local é algo inconfundível. O Great Mosque é a principal mesquita da cidade, onde vale a pena entrar e relaxar um pouco no carpete observando os muçulmanos cultuarem Alá. Já a Citadel é um imenso forte, que está boa parte em ruínas, localizado no topo de uma colina, de onde se pode ter uma bela vista de toda a cidade velha.

Outra área interessante é o distrito cristão de Al-Jdeida, onde ficam várias igrejas, lojas e bons restaurantes. Dei uma volta por lá à noite e não vi muito movimento de bares, mas uma boa opção é o restaurante Al-Mashrabia, com todas aquelas comidas árabes tradicionais, como quibe cru, tabule, hummus, baba ganoush, etc...
Saindo de Aleppo pegamos um ônibus para Damasco, pela empresa Al-Eman (200 pounds sírios), em um trajeto de 5 horas. Demos sorte, porque pegamos o primeiro busão que vimos pela frente e era bom. Aliás, esta é uma missão que exige bastante paciência no Oriente Médio. Quando entramos na rodoviária fomos praticamente atacados por um monte de gente oferecendo passagens e falando um monte de coisa que não dá para entender nada. Cada um, claro, querendo vender seu peixe (sua passagem, no caso), mas com condições pouco confiáveis.

Damasco - Chegamos à capital síria e fomos para o Al-Rabie Hotel, considerado o melhor da região pelos mochileiros, localizado em um bom ponto, entre a cidade velha e a nova. Tirando o fato que tinha um gato morto e sangrando no quarto no roof que iríamos ficar (sim, iríamos dormir no roof, uma espécie de sótão, que é bem mais barato. Afinal, mochilismo é isso), de resto o local até que era tranquilo. Como preferimos não dividir o aposento com o felino, acabamos ficando em um quarto compartilhado normal, sem banheiro, por 350 pounds sírios a diária.
Tida como a capital ainda habitada mais antiga do mundo, Damasco não se difere muito de Aleppo em sua distribuição geográfica. É na Old City onde também ficam os principais pontos de interesse, como a Mesquita Umayyad, o Souq al-Hamidiyya e o Palácio Azem. A mesquita é uma das mais sagradas do mundo islâmico, vale estar lá para observar no horário de uma das cinco rezas diárias que os muçulmanos são obrigados a fazer. Ao lado de um dos muros da Umayyad está o mausoléu de Saladin, um dos heróis da história árabe. Pelas ruelas do souq, onde se encontra de tudo nas lojinhas, desfilam desde típicos senhores árabes com véu na cabeça e mulheres todas cobertas de preto até jovens mais modernos vestindo roupas de marca. Claro que existem diversas outras mesquitas, templos, museus, madrassas (escolas) e coisas do tipo por ali, mas ai vaí do interesse de cada um para ficar entrando em todos.
Ainda dentro das muralhas que circundam a cidade velha, existe o distrito cristão, na área entre os portões de Bab Touma e Bab ash-Sharqi, onde o cenário é um pouco mais liberal, com a presença de alguns barzinhos e jovens aproveitando a vida noturna. Por ali, perto da conhecida Via Recta (Straight Street) ficam algumas baladas (acreditem, baladas na Síria) como o Marmar, o Zodiac e o La Serail, que dizem bombar nos finais de semana. Porém, é bom checar se realmente enche nas sextas e sábados, porque nos dias da semana que estivemos lá, o negócio era bem devagar. Mas, pelo menos cerveja, entre elas a Barada Beer, produzida na Síria mesmo, não é difícil de comprar, mas só em lugares específicos. Na maioria dos bares, além de ser uma raridade achar uma mulher, os caras ficam a noite toda fumando narguilé e tomando.... chá, fanta laranja, suco !?! (vai entender).
Quanto à comida, mesmo para quem tem frescura, encontrar restaurantes com pratos “normais”, servindo frango e carne não é problema. Além disso, obviamente, esfihas a preço baixíssimo fazem a alegria de qualquer mochileiro. Encontramos por lá o “verdadeiro Habib`s”, que vendia esfihas a 10 pounds sírios (uns 15 centavos de euro).

Palmyra - De Damasco, fizemos uma day-trip, um bate e volta no mesmo dia, para Palmyra. É só chegar na rodoviária Harasta/Pulmlman Garage (atenção, existem outras na cidade), “enfrentar” o enxame de agradáveis vendedores de passagem, escolher uma empresa que pareça ser mais confiável e arriscar. Pagamos 150 pounds sírios na ida e 200 na volta, e são 3 horas de viagem cada trecho. Palmyra não tem exatamente uma rodoviária, então os ônibus podem parar em locais diferentes. No nosso caso, tivemos ainda que pegar um táxi para chegar ao centro.
Como já relatei no post anterior, eu e o Chuck éramos literalmente os únicos turistas em Palmyra naquele dia, os primeiros nos últimos três meses, devido aos conflitos no país. Visitamos tranquilamente as ruínas (um dos inúmeros patrimônios mundiais da Unesco) localizadas no deserto, construídas há milhares de anos, em uma data não precisa, mas que fez parte da história da Mesopotâmia e do Império Romano, por exemplo. Durante o tempo que andamos por entre as gigantes pilastras, apenas camelos, alguns beduínos e uma tempestade de areia cruzaram nossos caminhos. Tem gente que prefere pernoitar na cidade para ver o nascer ou o pôr do sol, mas nosso cronograma de viagem era apertado para isso. Voltando a Damasco, o próximo destino seria Beirute, a capital do Líbano.
Além dessas cidades que visitamos, existem outros highlights na Síria, como Hama, Homs, o Crac des Chevaliers, Bosra e Maloula, que acabamos não indo por falta de tempo.
Viajar para a Síria não parece das coisas mais normais do mundo, ainda mais durante um período de guerra. Mas o objetivo era esse mesmo. É aquela coisa: não é exatamente o lugar para se visitar se você está procurando baladas, diversão ou relaxar em um resort. É um destino exótico, assim como praticamente todo o Oriente Médio. Mas é um lugar sensacional se você busca viver uma realidade distinta daquela que nós estamos acostumados. Costumes, pensamentos, estilo de vida, língua, religião, culinária, enfim, tudo bem diferente. E é isso que me instigava neste mochilão, aprender com novas experiências e enriquecer culturalmente.

Legendas: 1) Ruínas de Palmyra - 2) Souq al-Attarine, em Aleppo - 3) Muçulmanos rezando dentro do Great Mosque, em Aleppo - 4) Trânsito caótico nas ruas de Aleppo - 5) Western Temple Gate, no final do Souq al-Hamidiyya, em Damasco - 4) Ruínas de Palmyra completamente desertas, apenas com alguns camelos

domingo, 11 de dezembro de 2011

Síria: turismo e vida normal em um país que sofre com conflitos e revolta contra Bashar al-Assad


Dos sete países visitados no Oriente Médio, a Síria com certeza foi o que me criou mais expectativa. A tão falada hospitalidade da população local, as ruínas de Palmyra, os souqs de Aleppo e as mesquitas da capital Damasco são os principais motivos da visita de qualquer um. No entanto, desta vez, algo nem tão admirável prendia minha atenção: os conflitos e a violência no país por causa da revolta de civis contra o governo ditatorial de Bashar al-Assad.
Pensei muito antes de ir, cogitei tirar a Síria do roteiro cada vez que eu via na TV as cenas de guerra e os milhares de mortos, mas a cada pequena informação positiva que eu via tinha mais certeza que deveria ir. Depois de ir e de viver toda a experiência, fica a lição de que valeu muito a pena. Apesar de tanques de guerra, metralhadoras e exército nas ruas, o risco foi mínimo. Eu diria que quase nenhum. Me senti muito mais seguro por lá do que em muitos lugares de São Paulo.

Foram três noites na Síria, entre Aleppo, Damasco e Palmyra, no final de setembro de 2011. Pelo bom senso, não fomos para Homs e nem Hama, as cidades onde estão acontecendo os maiores protestos. Durante esse tempo, além de mim e do Chuck, parceirasso deste mochilão, entre estrangeiros, encontramos apenas um casal de antipodeans (australiana e neozelandês) por lá. Acho que éramos os únicos turistas naquele momento no país todo, o que comprova que o cenário tenso afasta bastante as pessoas e desencoraja os viajantes. Inúmeras vezes fomos parados nas ruas por simpáticos sírios, desde crianças até velhinhos, impressionados e satisfeitos com a presença de estrangeiros por lá. Não foram poucos os “Welcome to Syria” que ouvimos.

Pode parecer loucura visitar um país em guerra, mas foi uma das melhores experiências que já tive. Claro que a situação por lá não é boa, mas a impressão que se tem vendo apenas as notícias da mídia internacional é muito pior. Na verdade, a vida segue bem normal para a grande maioria das pessoas, as cidades funcionam normalmente, sem qualquer sinal de caos, pelo menos em Damasco e Aleppo. O que, de fato, está bastante afetado é o turismo. Palmyra, onde ficam as ruínas romanas que são a atração mais visitada do país, é uma cidade fantasma atualmente. Quando estivemos lá, além de nós, só tinham camelos e alguns beduínos. Chegamos a pegar um táxi de graça, depois de dizermos que iríamos fazer o trajeto a pé, pelo simples fato de o motorista dizer: “Vocês são os primeiros turistas aqui nos últimos três meses, então eu levo vocês de graça mesmo, é melhor do que ficar sem fazer nada”.

Vendo de fora o que acontece na Síria, a primeira coisa que vem à cabeça é uma comparação com o que aconteceu com o Mubarak, no Egito, e com o Khadafi, na Líbia. Não sou especialista no assunto, mas o que me parece é que são situações bem diferentes. O al-Assad tem o apoio de muita gente por lá, pelo menos por enquanto. Os protestos contra ele se concentram em algumas regiões, mas ainda não é uma coisa generalizada. Por onde passei, é impressionante o número de cartazes e placas espalhados com a foto do presidente, embora eu imagine que em alguns lugares as pessoas colocam isso muito mais por obrigação e por medo do que propriamente por suporte a ele.
Bashar al-Assad está no comando da Síria desde 2000, após a morte do pai, Hafez al-Assad, que foi presidente de 1971 até então. As revoltas contra a política do ditador começaram em março de 2011 e até agora, segundo a ONU, mais de 4.000 pessoas já morreram.
Na prática mesmo, apesar da dificuldade na comunicação, não tivemos grandes problemas para encontrar hotéis, para pegar ônibus, para comer em restaurantes. Até mesmo cerveja nós conseguimos comprar em diversos lugares, apesar de os muçulmanos serem proibidos de consumir bebida alcoólica. A única coisa que está realmente afetada é o uso do cartão de crédito internacional, tanto para sacar dinheiro quanto para fazer compras. Com o embargo econômico dos Estados Unidos, não está mais funcionando por lá nenhum cartão de fora do país, seja Visa ou Mastercard. Tentei sacar dinheiro no caixa eletrônico algumas vezes, mas nada feito. Como eu já sabia disso, tinha levado cash mesmo, um pouco em libras sírias e um pouco em euro. Outra dificuldade por lá é no acesso à internet. Sites como Hotmail, Gmail, Facebook e Twitter são bloqueados pelo governo, apesar de existirem algumas lanhouses que dão um jeito de burlar isso.

Mesmo nos checkpoints militares que passamos nas estradas, não houve perturbações. Apenas checagem de passaporte e breves perguntas sobre o motivo da viagem. E por falar em passaporte, aí vai uma grande vantagem de ser brasileiro. Ficou muito evidente que ao saberem que éramos do Brasil, a preocupação deles acaba. A imagem de paz do nosso país ajuda bastante. Era falar em Brasil, que vinham sorrisos, brincadeiras e, claro, citações ao samba, ao futebol e a Ronaldinho, Kaká e companhia.

Apesar de ter sido tudo bem tranquilo, poderia ter sido muito complicado já desde a imigração. Aí vai uma boa sacada que eu tive antes mesmo da viagem. Tirei o visto sírio, que é obrigatório, aqui em São Paulo e quando preenchi o formulário não coloquei que eu era jornalista. Meti um administrador de empresas no papel. Tiro certo. Se eu tivesse colocado jornalista, eu não teria entrado no país. Ou, no mínimo, teria vários problemas. Quando cruzei a fronteira, vindo da Turquia, foi a única pergunta feita incisivamente pelo oficial de imigração: Qual a sua profissão? Ficou claro a preocupação e a censura que o governo local está fazendo com a mídia internacional por causa da situação no país. Vale citar que com o visto tirado no Brasil, por 78 reais, não é preciso desembolsar mais nada na entrada à Síria, mas paga-se 500 pounds sírios (7 euros) na saída do país.
Bom, mas e o que tem de bom para fazer na Síria? No próximo post escrevo mais detalhadamente sobre as cidades que visitei, costumes e atrações turísticas. Antes, deixo dois links aqui bem interessantes. O primeiro é sobre o relato à “Folha de S. Paulo” de um jornalista brasileiro que foi preso na Síria. Impressionante! ( http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1008643-bem-vindo-a-siria-desculpe-por-prende-lo.shtml ). O segundo é uma entrevista da ABC com o presidente Bashar al-Assad. Vale assistir! ( http://abcnews.go.com/International/bashar-al-assad-interview-defiant-syrian-president-denies/story?id=15098612#.TuJy3WMk67s ).
Salaam Aleikum!

Legendas: 1) Cartazes com foto do presidente Bashar al-Assad estão espalhados pelas ruas e prédios da Síria - 2) Apesar dos conflitos, vida segue normal em Damasco, como se vê no Souq al-Hamidiyya - 3) Já na turística Palmyra virou uma cidade fantasma, as ruas estão desertas - 4) Mesquita Umayyad, a maior do país, em Damasco - 5) Citadel, em Aleppo - 6) Campo de refugiados sírios, perto da cidade de Antakya, na Turquia, logo depois da fronteira

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

De volta após um mochilão pelo Oriente Médio!

Meus caros,

Mais uma vez minha ausência aqui foi mais longa do que o esperado, mas a correria do trabalho me impede de escrever aqui mais vezes. De qualquer forma, volto com bastante coisa pra postar. Entre setembro e outubro tirei férias e fiz mais um mochilão que rendeu várias histórias, experiências e uma bagagem cultural espetacular!
Fiquei um mês viajando pelo Oriente Médio, um mundo realmente diferente do que eu estou acostumado a contar aqui sobre a Europa. Estive na Turquia, Síria, Líbano, Jordânia, Israel, Palestina e Egito. Aos poucos, vou tentando relatar essas viagens com tantas coisas distintas. Desde praias até desertos, desde muçulmanos até judeus, desde mulheres de burca até as espetaculares soldadas do exército israelense. Balonismo na Capadócia, Maravilhas do Mundo, violência na Síria, baladas no Líbano, Petra, Mar Morto, o eterno conflito entre Israel e Palestina, pirâmides....
Foi uma mistura de várias realidades que tentarei colocar em palavras da melhor maneira possível. E antes de tudo, acho que vale citar uma coisa logo agora. O Oriente Médio é muito mais seguro para um viajante do que imaginamos. Guerras e problemas políticos à parte, e nesse caso é importante deixar claro que a mídia internacional faz um barulho muito maior do que o que realmente acontece, não me senti em situação de risco em nenhum momento por lá. Muito pelo contrário. Com as devidas precauções e sem se impressionar com tanques, metralhadoras e o exército nas ruas, foi uma viagem que valeu muito a pena. Vou dividir as histórias, dicas e fotos em vários posts a partir de agora.
Cheers!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Moscou: do comunismo soviético à abertura para o mundo, a surpreendente capital russa


Poucas cidades no mundo são capazes de te surpreender positivamente quando você cria uma grande expectativa sobre ela antes de visitá-la. Moscou é uma dessas e entrou na minha lista de favoritas. Símbolo do comunismo, a capital da Rússia cada vez mais se abre ao mundo e se aproxima da realidade capitalista. Mesmo assim, glasnost (abertura) e perestroika (reestruturação)à parte, ainda conserva muita história, características e a essência da antiga União Soviética. A Praça Vermelha, o Kremlin e a St. Basil Cathedral são um espetáculo à parte.
Fiquei três dias por lá agora em maio de 2011, antes de ir para a final da Champions em Londres. Aproveitei que estava indo para a Europa e peguei uns dias de folga para conhecer um lugar novo. Eu queria um destino diferente dos tradicionais, outra cultura e acabei colocando essa idéia em prática. Paguei 238 libras esterlinas nos voos de ida e volta da BMI de Londres para Moscou, valor mais alto em relação à média dos vôos dentro do continente. No entanto, vale lembrar que as companhias aéreas low-cost ainda não voam para lá, e este trajeto é mais longo, quatro horas de viagem.

Fui com as amigas Suelen e Mariana e ficamos no Godzillas Hostel, por 12 euros (500 rublos) a diária cada um, sem café da manhã. Acomodação boa, organizada e sem nenhum atrativo especial, mas justa pelo preço e a uns 15 minutos de caminhada até a Praça Vermelha. Moscou é uma cidade bem grande, com mais de 10 milhões de habitantes, é a sétima maior do mundo e tem a maior área metropolitana da Europa. Mesmo assim, achei que três dias foi o tempo ideal para conhecer as principais atrações. Claro que se a estada for mais longa é possível aproveitar ainda melhor, mas se houver mais tempo a recomendação é conhecer também São Petersburgo, o que acabei não podendo fazer.

Chegamos ao aeroporto Domodedovo em um sábado pela manhã, pegamos um trem até o centro da cidade (estação Paveletsky) e depois o metrô até a estação (Tsvetnoy Bulvar) mais perto do hostel. Mas o que pode parecer fácil para um viajante frequente não é tão simples assim na Rússia. Acho que dos 37 países que eu conheci até hoje, esse foi o que eu tive mais dificuldade na comunicação. A maioria da população local não fala inglês, em geral, apenas os mais jovens têm o domínio da língua. Isso também acontece em várias outras nações, eu sei, mas onde se fala espanhol, italiano ou francês, por exemplo, o entendimento é muito mais fácil. Para piorar, em raríssimos lugares, apenas nos extremamente turísticos, há informações, placas e sinalizações em inglês. De resto tudo, é escrito naqueles desenhinhos bizarros que eles chamam de letras, também conhecido como alfabeto cirílico. Para quem não tem o conhecimento do idioma, é simplesmente ilegível.
Resumindo, o simples fato de pegar um metrô e trocar de linha se torna uma aventura. Além de tudo estar escrito em russo, a maioria das placas não tem a cor da linha junto. E pedir uma informação nas ruas não é das dez tarefas mais fáceis do mundo. Mas isso também não é motivo para pânico exagerado. A partir do segundo dia você vai se acostumando com a bagunça, fazendo as relações e os símbolos do cirílico ficam um pouco mais parecidos com o nosso alfabeto romano. Dica: tenha sempre a mão um mapa do metrô que tenha o nome das estações nas duas línguas, russo e inglês. Atenção: estações por onde passam mais de uma linha geralmente tem mais de um nome. Por exemplo, a mesma estação chama-se um nome X para a linha verde e outro nome Y para a linha vermelha.
Muita complicação? Bom, vamos ao lado bom do metrô moscovita. Além de ele cobrir praticamente toda a cidade, sendo um meio de transporte bem eficiente, a beleza da arquitetura subterrânea compensa tudo. Estações como Komsomolskaya (hein?!?) e Novoslobodskaya, entre outras, valem a visita.

As principais atrações turísticas estão concentradas ao redor da histórica Praça Vermelha, palco de revoluções no coração da cidade. Lá estão a St. Basil Cathedral (aquela famosa igreja toda colorida), o History Museum (uma imponente construção vermelha), o enorme centro comercial GUM (uma espécie de shopping center com boas opções de lojas e restaurantes), a Kazan Cathedral, o Mausoléu de Lênin e, claro, o Kremlin.
A St. Basil Cathedral é mais interessante e fotogênica por fora do que por dentro, mas se tiver tempo, não custa entrar. O Mausoléu de Lênin é uma visita obrigatória, com a entrada gratuita, tem uma fila às vezes longa, mas compensadora. A impressionante oportunidade de ver o corpo de Lênin embalsamado e em perfeito estado de conservação foi uma das experiências mais marcantes na minha vida de viajante. O corpo do ex-líder do partido comunista russo e ex-chefe de Estado soviético, que morreu em 1924, “simplesmente” está exposto há décadas bem no centro de Moscou para o público em geral ver. A mera observação de Lênin faz você se sentir parte da história. Por ali, do lado de fora, na parede do Kremlin, também estão os túmulos de Stalin e Yuri Gargarin (com os escritos apenas em russo, a identificação fica difícil, vale perguntar no local).

O Kremlin é outro ponto turístico que não se deve perder. A sede do governo da Rússia (por onde passaram Lênin, Stalin, Mikhail Gorbachev, Boris Yeltsin, Vladimir Putin e, atualmente, Dmitry Medvedev), rodeada por imensos muros e torres de proteção, pode ser visitada e possui diversas construções e monumentos em seu interior. Existem algumas opções de tipos de ingressos para o local. Paguei 100 rublos (o que equivale a 2,50 euros e é o preço de estudante, o valor normal é 350 rublos), o que dava acesso à maioria dos lugares, incluindo a Cathedral Square, onde ficam as chamativas igrejas com cúpulas douradas: Assumption Cathedral, Annunciation Cathedral, Archangel Cathedral e The Bell-Tower of Ivan the Great. Os prédios do Palácio do Kremlin e o Senado russo podem ser vistos apenas por fora. Já para conhecer a Armoury Chamber, um museu das armas que retrata a trajetória de antigos czares, paga-se mais 350 rublos (cerca de 8 euros).
Mas os pontos de interesse de Moscou não param por aí. Vale citar o famoso Teatro Bolshoi, conhecido no mundo inteiro como uma das melhores companhias de balé e ópera, além da Cathedral of the Christ the Redeemer, além de outros museus espalhados pela cidade. Agradáveis também são o passeio de barco pelo rio Moscou e a rua comercial Stary Arbat. Para quem gosta de futebol, o estádio Luzhniki também deve fazer parte do roteiro.

Como não poderia faltar, falou em Rússia falou em vodka. E opções de bares e baladas noturnas para “degustar” a tradicional bebida local não faltam. Vale sempre perguntar no hostel onde está bombando no momento, mas o Propaganda é um dos principais clubs de lá e provavelmente um tiro certo se você busca diversão. Assim como em outros lugares da Europa, o Propaganda adota o “face control” na porta. Ou seja, quanto mais cedo chegar, mais garantida é a entrada, já que mais tarde o risco aumenta de o segurança barrar usando algumas das desculpas usuais: não pode entrar de tênis, precisa estar de camisa social, só pode entrar se estiver acompanhado de uma mulher, já está lotado, etc...
Antes de encerrar, uma dica para não gastar dinheiro à toa. Logo que cheguei ao hostel, falaram na recepção que estrangeiros precisavam pagar uma taxa de 400 ou 600 rublos (não lembro exatamente o valor) para fazer um registro na polícia russa. Se fossemos parados por um policial na rua sem esse registro, teríamos que pagar uma multa. Desconfiei, não paguei e até hoje não sei se realmente era verdade. De qualquer forma, apesar dos muitos policiais pela cidade, nunca me pediram nada.
Muita história, cidade vibrante e agradável, clima variado (peguei muito calor e sol em maio, mas o inverno é bem rigoroso, com neve), acesso mais fácil para nós (desde 2010 brasileiros não precisam mais de visto para entrar no país) e, claro, as russas primas da Sharapova... Precisa de mais motivos para visitar Moscou?

Legendas: 1) St. Basil Cathedral - 2) Praça Vermelha, com o History Museum (à esquerda) e a Kazan Cathedral (à direita) ao fundo - 3) Kremlin, visto de ponte sobre o Rio Moscou - 4) Cathedral Square, com as igrejas dentro do Kremlin - 5) Teatro Bolshoi - 6) estação de metrô Komsomolskaya

terça-feira, 28 de junho de 2011

Champions League e Copa Libertadores, as finais de 2011 - Organização é a grande diferença


Tive o privilégio de este ano estar presente nas duas principais decisões continentais de torneios interclubes do mundo: a Champions League e a Copa Libertadores. Saindo um pouco dos últimos posts sobre turismo, o objetivo aqui é relatar essa experiência, apontando diferenças entre as decisões na Europa e na América do Sul, contando cenas inesquecíveis e, infelizmente, também alguns fatos absurdos.
Fato é que Barcelona x Manchester United e Santos x Peñarol são jogos que ficarão marcados para sempre na minha memória. Falando do futebol e si e da festa, cada um no seu estilo, foram duelos fantásticos. Não importa o contraste financeiro, técnico ou de estrelas entre as duas finais. Não é esse o ponto. Foram dois espetáculos grandiosos, cada um da sua forma. No entanto, no quesito organização, a comparação entre ambos é cruel. Esta é a grande diferença que separa esses dois mundos, na minha humilde opinião.

Antes de criticar a final sul-americana, quero deixar claro que estou longe de achar tudo que é da Europa uma maravilha e tudo que é daqui uma porcaria. Respeito as diferenças culturais. O duelo no Pacaembu foi um dos mais empolgantes que já presenciei, com a torcida santista fazendo uma festa sensacional com fogos de artifício, sinalizadores e faixas, enquanto os uruguaios mostraram a força habitual ao cantarem e apoiarem a sua equipe em São Paulo. Dentro de campo, a vitória do Peixe, por 2 a 1, colocou Neymar, Ganso e companhia para sempre na história do clube. Show dos meninos da Vila e uma honra acompanhar isso de perto.

Porém, não dá para fechar os olhos para a ridícula desorganização em uma partida tão importante como essa. É até covardia comparar com o que aconteceu em Wembley. Foram diversos acontecimentos inaceitáveis presenciados no estádio da capital paulista.
Centenas de torcedores, mesmo com ingresso na mão, só conseguiram entrar no Pacaembu no segundo tempo. E quando entraram, não havia mais lugar para sentar. Além da superlotação em um estádio velho para 40 mil pessoas, as condições internas são precárias. Banheiros sujos, acessos apertados, lanchonetes vergonhosas. Além de venderem apenas um minúsculo cachorro-quente, refrigerante e batata, cada um por cinco reais, todos esses itens se esgotaram rapidamente antes de a bola rolar.
Outro ponto patético é a quantidade de bicões no gramado durante a comemoração do título, deixando a festa visualmente poluída e até perigosa, como pudemos ver. É ridícula a presença de diversos dirigentes, assessores não sei do que, amigos, primos, vizinhos, amigo do primo da cunhada do namorado e esse bando de gente que não tinha nada que estar lá atrapalhando o momento de glória dos atletas e comissão técnica. Não por acaso, um mané torcedor que invadiu o campo provocou uma briga generalizada entre os jogadores dos dois times ao provocar os uruguaios.

Vamos a mais reclamações. As condições de trabalho para nós jornalistas é algo deprimente. Na apertadíssima tribuna imprensa, espaço insuficiente para atender a demanda em uma final, existe meia-dúzia de mesas com tomadas e não há conexão wi-fi para internet. Trabalhei com o laptop no colo e só consegui tomada porque levei extensão para dividir com amigos. Parecia um puleiro. Depois do jogo, após uma aventura no meio das arquibancadas no caminho até o vestiário, cenas ainda mais bizarras para as entrevistas.
O já pequeno espaço no Pacaembu fica ainda mais reduzido com a presença dos mesmos penetras que estavam no gramado em um lugar onde apenas a imprensa deveria estar. A simples tentativa (pelo menos deveria ser simples) de entrevistar jogadores, técnicos e dirigentes se transforma em uma guerra com pessoas se acotovelando, se empurrando. Câmeras, microfones e gravadores misturados com intrusos com caneta e papel buscando um autógrafo ou uma foto com os ídolos. Nada contra quem quer os autógrafos, quando eu era criança eu também pedia, a culpa não é de quem pede. Culpado é quem deixou essas pessoas estarem no lugar onde não deviam, tudo tem o seu espaço.
A solução para tudo isso? Vou citar agora alguns casos de como funciona na Champions League. Seguir um bom exemplo, copiar coisas que dão certo não é pagação de pau, não é ser submisso, é apenas se dar o devido respeito e valor.

Acho que não preciso nem me alongar muito na quase que impecável organização inglesa para os torcedores que assistiram a mais um baile de Messi e companhia. Obviamente que os 80 mil que estiveram em Wembley tinham assentos marcados no estádio, lanchonetes, restaurantes e banheiros de boa qualidade, acesso sem grandes filas, sem empurra-empurra e com metrô na porta do estádio. Isso sem falar no Champions Festival, realizado no Hyde Park na semana que antecedeu a decisão em Londres. A matéria no link a seguir pode ilustrar um pouco desta atração: www.espn.com.br
Mas vamos direto à explicação de como funciona o esquema para a imprensa por lá. Coisa nada difícil de se fazer por aqui também, basta querer e ter bom senso. Eu não sei exatamente o número de jornalistas credenciados para Barça x Manchester, mas eram muitos, talvez perto de mil. Todos pediram o credenciamento com quase um mês de antecedência, e a Uefa só aceitou quantos Wembley podia comportar. Na tribuna, um espaço individual previamente marcado para cada um, com tomada, wi-fi e até um pequeno monitor de TV. Para a entrevista coletiva, só teve acesso quem tinha um passe especial, ou seja, a sala não ficou abarrotada de gente. Na zona mista após o jogo, áreas separadas para TVs com direitos de imagem, outras TVs, rádio e imprensa escrita. Sem nenhum bicão. Ainda vale citar o simpático e solícito tratamento dos funcionários, sempre dispostos a ajudar.
Coisa bem simples de se fazer por aqui. Não sei se a Conmebol, se o Santos, se a Aceesp, mas certamente alguém tinha que tomar frente e ser responsável por organizar isso. Tem que ter um pré-credenciamento, tem que se fazer uma tribuna provisória para uma decisão desse porte, tem que se fazer um esquema especial para zona mista e coletivas. Na Champions, a Uefa cuida do credenciamento e de todo o esquema para os jornalistas apenas na decisão. Antes disso, em todos os outros jogos do torneio é o clube mandante que tem a responsabilidade de organização, seguindo, claro, os padrões determinados pela entidade que comanda o futebol europeu.

Talvez este post tenha sido mais um desabafo do que um relato das experiências. Acho que as fotos e vídeos explicam melhor do que qualquer palavra a emoção de presenciar essas partidas. Mas fico na esperança de que um dia, quem sabe em breve, as coisas funcionem de uma forma mais correta aqui no Brasil. Faltam só três anos para a Copa do Mundo de 2014, e não adianta nada tudo ser uma maravilha durante o mês do Mundial, e depois tudo voltar ao normal, na base do tal “jeitinho”.
Essa comparação feita entre Libertadores e Champions de 2011 não é um fato isolado. Já estive em seis finais de Libertadores (1999, 2000, 2003, 2005, 2006 e 2011) e em duas de Champions (2010 e 2011), e os fatos são sempre semelhantes. Seja no Parque Antártica, no Morumbi, no Beira-Rio ou no Pacaembu, cada um desses estádios tem os seus pontos positivos e negativos. Mas insisto, a palavra é: organização! Capacidade nós temos. Precisamos evoluir.

Lengendas: 1) Barcelona 3 x 1 Manchester United, final da Champions League 2011, em Wembley, Londres - 2) Santos 2 x 1 Peñarol, final da Copa Libertadores 2011, no Pacaembu, São Paulo - 3) Festa da torcida do Barcelona - 4) Festa da torcida do Santos - 5) Espaçosa tribuna de imprensa em Wembley - 6) Puleiro para os jornalistas no Pacaembu

Vídeos: 1) Comemoração do Barcelona após o título da Champions, em Wembley - 2) Festa da torcida do Santos na final da Libertadores, no Pacaembu



sexta-feira, 24 de junho de 2011

De volta após Moscou e Champions em Londres!

Meus caros,

Após ausência de mais de um mês, estou aqui de novo para atualizar o blog. Aos poucos o acesso por aqui tem aumentado, fico feliz em ver pessoas interessadas em viajar e aumentar a bagagem cultural. A parte de comentários do blog segue sempre aberta para quem quiser fazer perguntas, tirar dúvidas, fazer sugestões, críticas...
Fiquei esse tempo sem escrever um pouco pela correria no trabalho e também por causa de mais uma viagem. No final de maio, estive por 12 dias de volta à Europa. Fui para Londres fazer a cobertura da final da Champions League, entre Barcelona e Manchester United, e aproveitei para matar as saudades de lá. Também visitei Moscou, a Rússia foi o 37º país que conheci. Aliás, me surpreendi positivamente com Moscou, p... cidade irada! Nos próximos posts escreverei sobre a Champions em Wembley e sobre a capital russa.
E como as viagens não podem parar nunca, já faço planos, ainda em fase inicial, para mais um mochilão em breve, ainda sem data definida. América Central ou Sul da África são as opções por enquanto. Mais pra frente, o leste da Ásia (Tailândia, Laos, Vietnam e arredores) também está entre minhas prioridades. Espero que dê certo. By the way, aceito dicas de quem já tenha visitado esses lugares.
Bom, acho que é isso.
Cheers!!!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Interlaken e região de Jungfrau: a viagem de trem por dentro dos Alpes da Suíça até o topo da Europa


São várias pequenas cidades que se espalham pelos Alpes Suíços, mas a mais visitada chama-se Interlaken. Localizada entres os lagos Thun e Birenz, Interlaken (entre os lagos, em português) é de mais fácil acesso e possui um maior número de atrações ao seu redor do que Zermatt, por isso talvez seja o destino de inverno mais comum do país. Bem difícil fazer uma escolha entre as duas, eu diria que ambas são imperdíveis, possuem muitas semelhanças e diferenças.
Além de ser também um agradável vilarejo tipicamente suíço, Interlaken oferece uma diversidade de passeios. Os principais são a região de Jungfrau (que engloba os montes Jungfrau, Eiger e Mönch), mais precisamente o pico de Jungfraujoch, uma fantástica estação de esqui a 3.471 metros de altitude; e o Schilthorn, montanha que abriga um interessante restaurante giratório, cenário do filme “007, A Serviço Secreto de Sua Majestade”. As cidadezinhas de Grindelwald, Mürren e Lauterbrunnen também são outras atrações.

Fui pra lá em junho de 2008, quando estava cobrindo a Eurocopa no país. Como contei no post anterior, com a credencial de jornalista tive a enorme vantagem de não pagar nenhum trem e ter bons descontos nos teleféricos, que são bem caros por sinal. Fui com o amigo Alexandre Coutinho e saímos de Zurique, em viagem ferroviária que dura 2 horas, com troca de trem em Berna. Ficamos uma noite no hostel Balmer`s Herbege, por 16 euros cada um a diária, uma excelente opção. Além de boas instalações, o albergue conta com um bar, uma pequena balada no subsolo e um espaço ao ar livre onde rolam festas, o que contribui bem para o descolado clima mochileiro do local.

A cidade de Interlaken em si até conta com uma boa estrutura de restaurantes (vale sempre lembrar que a Suíça é um país caro, nada fácil de encontrar lugares baratos para comer, por exemplo), hotéis, comércio em geral e até um cassino para atender a demanda de turistas, mas é apenas a base e ponto de partida para subir nas montanhas que a rodeiam. A estação de trem chamada Interlaken Ost é o lugar onde se inicia a viagem a paraísos com muita neve.
O pico de Jungfraujoch é um dos destinos mais espetaculares, chamado de ‘Top of Europe’ por possuir a estação de trem mais elevada do continente, a 3.454 metros de altura. Saindo de Interlaken e com baldeação em Grindelwald ou Lauterbrunnen, e depois também em Kleine Scheidegg, boa parte da ferrovia (a Jungfraubahn) se estende por túneis construídos por dentro das montanhas. Realmente impressionante. Lá no alto, localiza-se a plataforma de observação de Sphinx, onde o público pode ter vistas maravilhosas dos Alpes. Mesmo no verão, há muita neve para todos os lados, peguei temperatura de 5 graus negativos lá em cima. O local é bem estruturado com restaurante, lojinha e outros entretenimentos. Simplesmente espetacular também é o glaciar Aletsch, uma espécie de rio congelado que fica entre as montanhas ali.

É bom se programar e acordar bem cedo para pegar o trem, já que demora 2h20 só o trecho de subida, mais umas 2 horas a descida, fora o tempo que você passa lá no topo. Reserve no mínimo seis ou sete horas do dia para tudo. A primeira partida de Interlaken acontece por volta de 6h30, e a última volta saindo de Jungfraujoch é umas 17h45. O preço do trajeto total é bem salgado: 186 francos suíços, equivalente a 133 euros (Ah, se não fosse a credencial...). Vale lembrar que alguns passes especiais de trem também podem dar descontos.

Schilthorn é a outra principal montanha da região, a 2.970 metros de altitude. Além da paradisíaca vista lá de cima, a outra grande atração é o restaurante giratório Piz Gloria, onde você pode comer observando a 360 graus todos os detalhes dos deslumbrantes Alpes Suíços. Ao contrário do que se pode imaginar, a refeição tem um preço bem acessível no local. Na lojinha de souvenirs, claro, não faltam produtos fazendo referência ao famoso agente secreto 007, que teve um de seus filmes gravados por lá em 1969. Para se chegar ao topo, se pega um trem de Interlaken até Mürren, e depois um teleférico. O trajeto de ida dura cerca de 1 hora, e o preço total de ida e volta custa 109 francos, ou 78 euros.
Grindelwald, Mürren e Lauterbrunnen são cidadezinhas localizadas no meio do caminho entre Interlaken e as duas montanhas acima citadas. Grindelwald talvez seja a mais conhecida delas, mas todas contam com os seus atrativos. Possuem chalés de madeira típicos do país, com grandes áreas verdes (ou brancas durante o inverno rigoroso), onde vaquinhas com sinos pendurados no pescoço curtem a pacata vida pelos campos. Bons restaurantes com pratos regionais, fondues e chocolates suíços também fazem a alegria dos viajantes por lá. Em Lauterbrunnen existe uma enorme cachoeira com 300 metros de altura, a Staubbach, que vale uma visita.

Assim como em Zermatt, Interlaken e região também proporcionam diversos tipos de esportes tanto no inverno quanto no verão, com guias especializados para os mais amadores e desafios ousados para os mais experientes. Esqui, snowboard, bicicleta, caminhadas, entre outros podem ser praticados de acordo com o interesse de cada um nos lugares já mencionados.

A natureza presente nos Alpes da Suíça, como tentei explicar nestes dois últimos posts, certamente é algo fascinante. São belezas naturais de inverno, bem diferentes das também espetaculares maravilhas de verão que temos no Brasil e em outras nações da Europa. Ainda escreverei mais sobre outras cidades, mas este certamente é o grande motivo que atrai turistas a este interessante país. E bota interessante nisso, começando pelo “simples” fato de haver quatro línguas oficiais por lá: alemão, francês, italiano e romanche. Idioma, chocolate, queijo, pontualidade, relógio, neutralidade política e outras curiosidades suíças ainda serão abordadas por aqui...

Legendas: 1) Montanha Jungfraujoch, com plataforma de observação de Sphinx a fundo - 2) Glaciar Aletsch, ao lado de Jungfraujoch - 3) Trem e ferrovia de Jungfrau, por dentro das montanhas - 4) Restaurante giratório Piz Gloria, no topo de Schilthorn - 5) Vista dos Alpes Suíços e do teleférico do alto de Schilthorn - 6) Cidadezinha de Mürren - 7) Cachoeira Staubbach, em Lauterbrunnen

sábado, 14 de maio de 2011

Zermatt e o monte Matterhorn: um paraíso de inverno encravado nos Alpes Suíços


Não sei explicar exatamente o porquê, mas conhecer a Suíça, mais precisamente os Alpes Suíços, era um sonho de infância. Esse negócio de ver neve, algo que não existe no Brasil (aquelas espumas que caem de vez em nunca no Sul não conta), me fascinava. Eu já tinha visto neve pela primeira vez na Patagônia argentina, mas tive a oportunidade de realizar aquele desejo de criança anos depois.

Para ir às principais montanhas da Suíça, contei com um pouco de sorte, um pouco de ousadia e um pouco dos benefícios que ser jornalista nos dá. Era junho de 2008, e eu estava como freelancer cobrindo a Eurocopa na Áustria e na Suíça. Com a credencial de imprensa, eu não pagava nenhum trem ou transporte terrestre entre as cidades desses dois países durante todo o período da competição. E ainda tinha desconto em vários teleféricos para subir nos Alpes. Isso ajudou muito, porque esses meios de transporte não são nada baratos por lá. Então, aproveitei o tempo livre entre os jogos de futebol para conhecer mais lugares na Europa.

A cidadezinha de Zermatt e a montanha de Matterhorn foram o primeiro destino escolhido. Eu estava em Zurique, peguei o trem de lá com troca em Visp, em um trajeto total que demora 3 horas. É um percurso daqueles que não se deve dormir, já que a paisagem vista pela janela é espetacular. Para ser sincero, não sei direito os preços, mas o site da companhia ferroviária (www.sbb.ch) é bem completo. Zermatt também é o ponto final do famoso trem turístico Glacier Express, que começa em St. Moritz ou Davos. Para quem pretende chegar lá de carro, é obrigatório estacionar na cidade de Täsch, 5 km antes, já que automóveis não circulam nas ruazinhas. Viajei sozinho e fiquei uma noite no Matterhorn Hostel, por 20 euros a diária.
Zermatt é minúsculo, parece um vilarejo, com cerca de 6 mil habitantes, que se multiplicam durante o inverno. A cidade encravada no meio das montanhas é agradável, com aquele cenário de casinhas tipo chalés de madeira com telhados triangulares e picos nevados ao fundo. No dia que cheguei, estava rolando uma banda local com música típica e umas barraquinhas vendendo comida e cerveja. Na pracinha central, há uma igreja e nas ruas próximos diversos restaurantes, barzinhos e lojas.

Mas a grande atração, claro, fica um pouco mais acima. O Matterhorn é a montanha mais famosa da Suíça, vista de quase qualquer ponto da cidade. Com 4.478 metros de altitude, é um símbolo do país, representado também em alguns produtos famosos, como o chocolate Toblerone, por exemplo. Para subir no Matterhorn, apenas poucos corajosos escaladores conseguem o feito. Mas nós meros viajantes podemos subir de teleférico em montanhas próximas para ter uma bela vista do pico.

Existem várias opções de trajetos para ir ao alto das montanhas, mas o principal deles é o Matterhorn Glacier Paradise (ao custo de 90 francos suíços, cerca de 70 euros, o preço inteiro, sem o desconto para quem tiver passes especiais). Neste, você sobe em duas etapas de bondinho, a primeira até Schwarzsee (onde há um restaurante), e depois atinge o Klein Matterhorn, um pico a 3.883 metros de altitude, o mais alto da Europa a ser alcançado de teleférico. Lá no alto, além de neve para todos os lados, você também pode visitar um “palácio de gelo”, uma espécie de caverna com vários objetos moldados com gelo. Para quem gosta ou pelo menos quer tentar esquiar, existe a possibilidade de alugar equipamentos e roupas de esqui antes da subida. Mas também é possível ir com trajes normais e apenas caminhar pela neve, correndo o risco de ter o pé molhado e congelado dependendo de suas peripécias.

Eu fui pra lá no verão, em junho, mesmo assim as montanhas estão todas completamente brancas (vide fotos), e boa parte das pistas de esqui estão abertas também. Lá em cima, peguei temperatura de cerca de 2 graus negativos. Lá em baixo, na cidade, onde só neva no inverno, peguei entre 10 e 15 graus Celsius.
Para os mais esportistas, existem diversas outras opções em qualquer estação do ano. Além de várias pistas de esqui, snowboard e derivados, alguns pontos podem ser atingidos com caminhadas ou trekking. Também é possível fazer escaladas, alugar bicicletas e até passeios de helicóptero. No site oficial de Zermatt (www.zermatt.ch) há boas explicações sobre esse paraíso nos Alpes.
Nos próximos posts escreverei um pouco mais sobre outras cidades suíças. Zurique, Berna, Genebra, Basel, Neuchatel, Lugano, Interlaken, Grindelwald, Jungfrau e região são alguns dos lugares que a Euro-2008 me proporcionou conhecer.

Legendas: 1) Matterhorn, a montanha mais famosa da Suíça, representada no chocolate Toblerone - 2) Vista das montanhas e muita neve nos Alpes Suíços - 3) Plataforma de observação em Matterhorn Klein, a 3.883 metros de altitude - 4) Restaurante em Schwarzsee, a primeira etapa na subida do Matterhorn Glacier Paradise - 5) Cidade de Zermatt, encravada no meio das montanhas, vista do teleférico - 6) Ruazinhas de Zermatt

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Budapeste: dos banhos termais às influências históricas, a diversificada capital da Hungria


Fundada pelos romanos, ocupada pelos magiares, dominada pelos turco-otomanos, invadida pelos nazistas e tomada pelos comunistas soviéticos. Esta é Budapeste, a capital da Hungria, hoje um território livre e independente. Uma das cidades mais interessantes do Leste Europeu (em minha opinião, a mais interessante), e por que não, de toda a Europa.
Talvez por sua história de conflitos e superação, um dos povos mais simpáticos do continente. Talvez por ter sido dominada por tantos povos, uma cidade que mistura as mais distintas características. O velho com o novo. O conservadorismo com a modernidade. Os tradicionais banhos termais com piscinas no verão. Fato é que, seja por suas construções, pela sua população ou pela agitação, Budapeste é um dos destinos que eu considero obrigatório na Europa. Gostei bastante de lá.

Estive na capital húngara em julho de 2009, com os amigos Gabriel e Suelen. Fiquei dois dias inteiros por lá, mas por muito pouco não troquei minha passagem para ficar mais tempo. Só não fiz isso porque o cronograma para a sequência da viagem estava apertado. Vindo de Praga e depois indo para a Romênia (ambos os trajetos feitos de trem noturno, de 6 a 7 horas de duração), cheguei e saí da cidade de trem, na estação Keleti, de fácil acesso e ligada ao centrão por linha de metrô ou até mesmo por uma caminhada de cerca de 20 minutos. Ficamos no hostel Central Backpack King, pagando apenas 10 euros a diária. Lugar pequeno e simples, mas hospitaleiro, agradável e bem localizado.
Budapeste é cortada no meio pelo Rio Danúbio, que a divide em duas áreas: Buda e Peste, que antes eram duas cidades separadas, unificadas em 1873. Buda é onde estão as atrações mais históricas e culturais, Peste é onde fica a parte mais comercial e badalada. Apesar da divisão, quase tudo dos dois lados pode ser alcançado a pé se você tiver com o fôlego em dia. Para alguns locais, vale a pena pegar o antigo e eficiente metrô. A ligação entre as duas áreas da capital é feita por pontes, a principal e mais antiga delas, na parte central, é a Széchenyi Lánchíd (Ponte das Correntes).

Do lado de Buda, ao fundo da ponte, avista-se o imponente Palácio Real, ou Palácio de Buda, localizado no alto de um morro (Castle Hill, ou Varhégy). Para subir até lá, é possível ir andando, ou pagando-se um funicular para os mais preguiçosos. A vista lá do alto já vale bastante, já que você tem uma visão de quase toda a cidade, do rio e das principais grandes construções. Para quem quer se aprofundar na história e na arte, pode-se desembolsar alguns forints e entrar no palácio, que abriga museus, como a Galeria Nacional Húngara. Nos arredores, também pode-se visitar as ruínas de um forte romano ou um labirinto de túneis e cavernas.
Ainda na parte alta de Buda, seguindo-se um pouco mais à frente, está a praça central da região, a Szentháromság tér (Vai tentar falar esse palavrão lá pra ver se dá certo. Na dúvida, mete um Central Square em inglês que eles entendem). Bem ao lado, ficam a igreja Mátyás-Templom e o Fishermen`s Bastion, uma espécie de terraço, bonita construção, também com uma bela vista para a cidade.

Do lado de Peste, os destaques são o imponente prédio do Parlamento, com arquitetura inspirada no Parlamento inglês, e a Basílica Szent István (São Estevão). A Vörösmarty tér é uma movimentada praça com várias lojas, restaurantes e cafés ao redor. A principal avenida é a Andrássy ut, que conta com bonitas construções em suas margens, além de atrações como a Ópera e o Museu do Terror. Ao final dela, está a Hosök tere (Praça dos Heróis), com os monumentos Milenar e dos Heróis Nacionais. Ao lado, há o Museu de Belas Artes. Atrás da praça, fica o agradável City Park, área verde que abriga o zoológico, um castelo (Vajdahunyad) e um dos principais banhos termais da cidade.
Por falar em banhos termais, este é um programa que precisa estar no roteiro de qualquer forma, seja no frio ou no calor. Existem dezenas deles espalhados por Budapeste, é uma tradição local. É uma espécie de clube, no qual você paga uma entrada que te dá direito a algumas horas no local, que conta com diversas piscinas com águas medicinais das mais variadas temperaturas. Fui ao Széchenyi, acho que o maior da cidade, localizado no City Park. Essa terma conta com muitas piscinas e banheiras hidromassagens indoors e uma boa área ao ar livre com piscinas grandes, ótima escolha durante o verão. O público é bem variado, desde senhoras com a família e crianças até jovens sorridentes húngaras, essas últimas são sempre uma boa opção para pegar “informação” sobre a balada à noite. Outro banho termal bastante conhecido por lá é o Gellért, que fica dentro de uma construção em Art Nouveau com colunas de mármore.

As atrações noturnas também são bem diversificadas e, como em qualquer lugar, vale perguntar no hostel sobre o que está bombando na época. Principalmente no verão, bares e baladas com espaço a céu aberto na beira do rio costumam ser os melhores, e alguns também na Margit sziget (Margaret Island), uma ilha no meio do Danúbio. No centro de Peste também há bastante agitação, me lembro de um pub/balada chamado Morrison`s.
Seja durante o dia ou à noite, seja você uma pessoa tranqüila ou agitada, certamente você vai encontrar uma atração que se encaixe ao seu perfil em Budapeste. E mesmo que você não compreenda uma só palavra do complicadíssimo idioma húngaro durante a viagem, você vai entender um pouco mais sobre uma cultura diversificada, seja apreciando uma obra de arte dentro de um museu ou tomando uma cerveja com os moradores locais.

Legendas: 1) Széchenyi Lánchíd (Ponte das Correntes), com o Palácio Real (de Buda), ao fundo - 2) Vista da cidade do alto do Castle Hill - 3) Basílica Szent István (São Estevão) - 4) Banho termal de Széchenyi - 5) Budapeste à noite, desde a ponte de Margaret Island

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mônaco: um passeio pelas ruas do minúsculo e elegante principado, onde se respira Fórmula 1


Não tem como falar em Mônaco e não pensar em Fórmula 1. É a primeira associação que vem à cabeça. De fato, muita coisa por lá gira em torno do evento automobilístico. Além disso, a curiosidade de ser um minúsculo principado de área menor do que 2km², um país dentro de outro país (França), um país com dez cidades que, na verdade, mais parece ser uma cidadezinha com dez bairros. Essas peculiaridades sempre me despertaram a vontade de conhecer Mônaco.
Estive lá em agosto de 2010, foi uma day-trip saindo de Nice. Como hospedagem em Mônaco é bem caro, o ideal mesmo é dormir na cidade francesa e passar o dia no país vizinho. Nós fomos de ônibus, que demora apenas 45 minutos e custa só 1 euro cada trecho. Também há a opção de ir de trem. Muitas das coisas escritas no post anterior se aplicam a este, mas vamos às dicas sobre como aproveitar o país.

As cinco principais cidades de Mônaco são: Monte Carlo, Monaco-Ville, La Condamine, Fontvielle e Larvotto. Todos os pontos de interesse podem ser alcançados com uma caminhada, mas, no caso de o cansaço bater, já que o relevo é montanhoso, existem eficientes linhas de ônibus. Chegamos em La Condamine, onde fica o porto velho, na avenida principal do país, local da largada, da chegada e dos boxes da Fórmula 1. Por ali, vários iates e barcos gigantescos ancorados são o pano de fundo da avenida, com um movimentado calçadão ao lado, onde alguns restaurantes e um pequeno parque de diversões infantil (com brinquedos que fazem alusão à F-1) agitam a região. Apesar do alto preço por ali, existem opções um pouco mais acessíveis de comida, principalmente lanches, como pizza e sanduíches.

Dali, saímos andando pelas famosas ruas do principado onde o brasileiro Ayrton Senna fez história, agora já se estendendo para Monte Carlo, ruas que no mês de maio de todos os anos transformam-se em pista de corrida. Fizemos praticamente todo o circuito de F-1 a pé, passando pelo tradicional túnel que fica embaixo do hotel Fairmont e pela clássica fechadíssima curva do Cassino. Aliás, dentro do túnel existe uma interessante loja de souvenirs que, claro, vende diversos produtos sobre a Fórmula 1. Monte Carlo é o lugar mais badalado de Mônaco. É lá também que fica o conhecido e luxuoso cassino, onde você paga 10 euros de entrada e durante a noite só pode entrar se estiver bem vestido. Em frente, há uma simpática praça com um agradável jardim para relaxar. E pelas ruas, um verdadeiro desfile de Ferrari, Porsche, Mercedes e outros carrões.

A outra área bastante turística é Monaco-Ville, a capital do país, onde fica o Palais Du Prince, sede do governo, palácio do Príncipe Albert II e da família Grimaldi. A cidade velha, no alto de uma colina, com construções medievais, também abriga a Catedral e o Museu Oceanográfico. Já em Fontvielle, do outro lado do morro, localiza-se o porto novo e o estádio de futebol do Mônaco, mas são poucos os atrativos.

Larvotto é a cidade/bairro onde fica a praia pública do principado, praia artificial construída com areia e pequenas pedrinhas às margens do Mar Mediterrâneo. O local não tem nenhuma beleza fora do normal, mas no verão fica lotado de moradores e turistas querendo aproveitar o calor. No caminho entre Monte Carlo e Larvotto fica o Grimaldi Forum, pavilhão que abriga diversos eventos, entre eles a premiação futebolística Golden Foot. Do lado de fora, há uma calçada da fama na qual estão gravados os pés de vários craques do mundo, entre eles vários brasileiros, como Ronaldo, vencedor do prêmio em 2006, Roberto Carlos, eleito em 2008, Ronaldinho Gaúcho, ganhador em 2009, além de Romário, Zico, Rivelino, Nilton Santos e Aldair.
Bom, passar um dia em Mônaco é suficiente para matar a curiosidade sobre o principado e conhecer as principais atrações, sem gastar muita grana. Para quem quiser desfrutar das demais extravagâncias do lugar, é melhor reservar mais tempo. E, certamente, mais dinheiro. Muito mais dinheiro.

Legendas: 1) Porto velho, em La Condamine, visto do alto de Monaco-Ville - 2) Curva do Cassino, ponto clássico do circuito de Fórmula 1 - 3)Túnel da F-1 sob o hotel Fairmont - 4) Cassino de Monte Carlo - 5) Praia de Larvotto

terça-feira, 5 de abril de 2011

Nice e Cannes: conheça o lado B e o mar azul da glamourosa Riviera Francesa sem gastar milhões


“Se eu fosse vocês não iria às principais boates daqui. Vocês vão gastar muita grana e só vão encontrar francesinhas e francesinhos metidos, isso se deixarem vocês entrarem. Precisa ir bem vestido e de sapato, e nunca um grupo só com homens, tem que ter mulher junto. Mas posso indicar outros lugares que vocês vão se divertir muito mais à noite e conhecer gente mais interessante”. Foi com esse discurso que o gerente do hostel que ficamos em Nice resumiu o conselho para a nossa estadia na Riviera Francesa, a glamourosa região litorânea do país. Conhecida por ser destino de gente endinheirada, a Cote D`Azur (Costa Azul) também tem o seu lado B. E é justamente sobre essa viagem no esquema mochileiro que vou escrever aqui, afinal não cheguei a conhecer de perto as baladas, os iates e as festas milionárias do balneário.

Estive em Nice, Cannes e Mônaco em agosto de 2010, junto com os amigos Bruno, Jadson e João, depois de já termos passado pela Croácia e por Roma nessa mesma viagem. A idéia era mesmo conhecer um dos lugares mais badalados do verão europeu, já sabendo das peculiaridades de lá. Gostei bastante, aliás, acho que é impossível não aproveitar uma trip com praia, sol e outros detalhes que o verão sempre oferece. Ficamos quatro noites em Nice, chegamos uma sexta-feira à noite e fomos embora na terça pela manhã. Pagamos 24 euros cada na diária do Hostel Pastoral, bem localizado, perto da estação de trem, e com boas acomodações. Tem também um espaço ao ar livre onde rola uma confraternização interessante com os demais viajantes. Ah, o descolado gerente do hostel, autor da frase do início do post e que deu várias dicas interessantes sobre a cidade, é francês mesmo, mas morou alguns meses no Brasil pra lutar jiu-jitsu.
Por ter opções um pouco mais baratas de acomodação e restaurantes, além de ser a segunda cidade turística da França (apenas atrás de Paris), Nice geralmente é a base para se explorar a Riviera. De lá, é fácil e rápido para se chegar a Cannes e Mônaco, ou até mesmo Saint-Tropez. Outra razão para isso é o fato de Nice contar com um aeroporto servido por voos das principais companhias aéreas europeias, incluindo as low-cost Ryanair e Easyjet.

Durante os dias de calor, o melhor programa é mesmo aproveitar o sol e o mar impressionantemente azul do Mediterrâneo. A praia central, de pedra, fica lotada durante os meses de verão e tem atrações em sua extensão, como caros restaurantes e bares, além de alguns esportes radicais, como parachute (aquela espécie de paraquedas puxada por um barco). A avenida beira-mar, a Promenade des Anglais (Passeio dos Ingleses), é um agradável lugar para se caminhar ou relaxar no fim de tarde. Um pouco mais afastado do centro, existem algumas outras praias, como a cidadezinha de Villefranche-sur-Mer, acessível de trem. Dentro de Nice, o melhor meio de transporte é o bonde elétrico, ou mesmo os seus pés. Outra boa pedida é uma subida no Chateau de Nice, a colina que separa o centro da cidade do porto, de onde rola uma bela vista.
Bem próximo à praia principal, fica o centro velho da cidade (Vieux Nice), região de ruazinhas estreitas onde se localizam alguns pontos de interesse, como a Cathédrale Ste-Réparate e os Museus de Arte Moderna e de Arte Contemporânea. Vários restaurantes típicos, bares e lojas também fazem a alegria dos visitantes por ali. Aliás, é no centro velho que fica o local que atrai a maioria dos viajantes interessados em festa à noite a um preço acessível. Wayne`s é o nome do pub com música ao vivo, que fica lotado de turistas e mesmo alguns franceses locais. Por ser bastante conhecido e não cobrar entrada, é recomendável chegar cedo para evitar ser barrado na porta.

Logo acima, fica a Place Massena, principal praça de Nice, que fica ao lado do Boulevard Jean Jaurés, decorado com fontes e jardins, lugares sempre movimentados durante o dia e a noite. Outras atrações procuradas da cidade são: os Museus Marc Chagall, Matisse, Massena e a Catedral ortodoxa Russa Saint-Nicolas.
Distante apenas 40 minutos de Nice, e com o ticket de trem a cerca de cinco euros, fica Cannes. Conhecida mundialmente pelo Festival de Cinema, a cidade litorânea francesa é ainda mais cara que a vizinha. Passei apenas algumas horas de uma manhã e tarde de domingo por lá, tempo suficiente para constatar que eu ainda preciso ganhar muito dinheiro para usufruir devidamente os atrativos do lugar.

Mesmo assim, valeu para conhecer a praia central (umas das poucas de areia na Riviera Francesa), que fica à frente do Boulevard La Croisette, e o Vieux Port, porto de parada dos gigantescos iates. A simples tarefa de ir à praia já demanda que você desembolse uma boa grana no centro Cannes. Com exceção da pequena faixa no canto direito, é necessário pagar para ficar na areia, já que o local é dominado por diversos bares/restaurantes que cobram pelo acesso, ocupando o espaço com mesas e cadeiras. Dali de perto, partem barcos para as Îles de Léris, duas pequenas ilhas localizadas logo à frente.
Claro, talvez o ponto mais famoso da cidade seja o Palais des Festivals et des Congrès, onde no mês de maio de todos os anos celebridades do cinema passam pelo tapete vermelho durante a entrega da tradicional premiação. Durante o verão, o local é usado como uma balada, onde DJs e outros famosos da música eletrônica e afins tocam todas as noites.
Como eu já disse no início, há formas completamente opostas de se explorar a Cote D`Azur. Vou ficar devendo aqui dicas de baladas, restaurantes, bares e praias mais “posh”, mais chiques, mas fica a experiência de ter aproveitado, e muito, o litoral da França de um jeito mais econômico, convivendo com a cultura local e conhecendo pessoas dos mais diferentes estilos, pessoas que também sabem aproveitar a vida independentemente de quanto dinheiro tenham no bolso.
No próximo post escreverei sobre Mônaco, o minúsculo, mas badalado principado, famoso pelas sinuosas ruas onde carros de Fórmula 1 aceleram por lá todos os anos...

Legendas: 1) Mar Mediterrâneo impressionantemente azul, na praia central de Nice, em frente ao Promenade des Anglais - 2) Praia central de Nice e suas belezas, com a colina Chateau de Nice ao fundo - 3) Place Massena, a principal praça de Nice - 4)Palais des Festivals et des Congrès, local onde acontece o Festival de Cinema de Cannes - 5) Canto de graça da praia central de Cannes, em frente ao Boulevard La Croisette