terça-feira, 28 de junho de 2011

Champions League e Copa Libertadores, as finais de 2011 - Organização é a grande diferença


Tive o privilégio de este ano estar presente nas duas principais decisões continentais de torneios interclubes do mundo: a Champions League e a Copa Libertadores. Saindo um pouco dos últimos posts sobre turismo, o objetivo aqui é relatar essa experiência, apontando diferenças entre as decisões na Europa e na América do Sul, contando cenas inesquecíveis e, infelizmente, também alguns fatos absurdos.
Fato é que Barcelona x Manchester United e Santos x Peñarol são jogos que ficarão marcados para sempre na minha memória. Falando do futebol e si e da festa, cada um no seu estilo, foram duelos fantásticos. Não importa o contraste financeiro, técnico ou de estrelas entre as duas finais. Não é esse o ponto. Foram dois espetáculos grandiosos, cada um da sua forma. No entanto, no quesito organização, a comparação entre ambos é cruel. Esta é a grande diferença que separa esses dois mundos, na minha humilde opinião.

Antes de criticar a final sul-americana, quero deixar claro que estou longe de achar tudo que é da Europa uma maravilha e tudo que é daqui uma porcaria. Respeito as diferenças culturais. O duelo no Pacaembu foi um dos mais empolgantes que já presenciei, com a torcida santista fazendo uma festa sensacional com fogos de artifício, sinalizadores e faixas, enquanto os uruguaios mostraram a força habitual ao cantarem e apoiarem a sua equipe em São Paulo. Dentro de campo, a vitória do Peixe, por 2 a 1, colocou Neymar, Ganso e companhia para sempre na história do clube. Show dos meninos da Vila e uma honra acompanhar isso de perto.

Porém, não dá para fechar os olhos para a ridícula desorganização em uma partida tão importante como essa. É até covardia comparar com o que aconteceu em Wembley. Foram diversos acontecimentos inaceitáveis presenciados no estádio da capital paulista.
Centenas de torcedores, mesmo com ingresso na mão, só conseguiram entrar no Pacaembu no segundo tempo. E quando entraram, não havia mais lugar para sentar. Além da superlotação em um estádio velho para 40 mil pessoas, as condições internas são precárias. Banheiros sujos, acessos apertados, lanchonetes vergonhosas. Além de venderem apenas um minúsculo cachorro-quente, refrigerante e batata, cada um por cinco reais, todos esses itens se esgotaram rapidamente antes de a bola rolar.
Outro ponto patético é a quantidade de bicões no gramado durante a comemoração do título, deixando a festa visualmente poluída e até perigosa, como pudemos ver. É ridícula a presença de diversos dirigentes, assessores não sei do que, amigos, primos, vizinhos, amigo do primo da cunhada do namorado e esse bando de gente que não tinha nada que estar lá atrapalhando o momento de glória dos atletas e comissão técnica. Não por acaso, um mané torcedor que invadiu o campo provocou uma briga generalizada entre os jogadores dos dois times ao provocar os uruguaios.

Vamos a mais reclamações. As condições de trabalho para nós jornalistas é algo deprimente. Na apertadíssima tribuna imprensa, espaço insuficiente para atender a demanda em uma final, existe meia-dúzia de mesas com tomadas e não há conexão wi-fi para internet. Trabalhei com o laptop no colo e só consegui tomada porque levei extensão para dividir com amigos. Parecia um puleiro. Depois do jogo, após uma aventura no meio das arquibancadas no caminho até o vestiário, cenas ainda mais bizarras para as entrevistas.
O já pequeno espaço no Pacaembu fica ainda mais reduzido com a presença dos mesmos penetras que estavam no gramado em um lugar onde apenas a imprensa deveria estar. A simples tentativa (pelo menos deveria ser simples) de entrevistar jogadores, técnicos e dirigentes se transforma em uma guerra com pessoas se acotovelando, se empurrando. Câmeras, microfones e gravadores misturados com intrusos com caneta e papel buscando um autógrafo ou uma foto com os ídolos. Nada contra quem quer os autógrafos, quando eu era criança eu também pedia, a culpa não é de quem pede. Culpado é quem deixou essas pessoas estarem no lugar onde não deviam, tudo tem o seu espaço.
A solução para tudo isso? Vou citar agora alguns casos de como funciona na Champions League. Seguir um bom exemplo, copiar coisas que dão certo não é pagação de pau, não é ser submisso, é apenas se dar o devido respeito e valor.

Acho que não preciso nem me alongar muito na quase que impecável organização inglesa para os torcedores que assistiram a mais um baile de Messi e companhia. Obviamente que os 80 mil que estiveram em Wembley tinham assentos marcados no estádio, lanchonetes, restaurantes e banheiros de boa qualidade, acesso sem grandes filas, sem empurra-empurra e com metrô na porta do estádio. Isso sem falar no Champions Festival, realizado no Hyde Park na semana que antecedeu a decisão em Londres. A matéria no link a seguir pode ilustrar um pouco desta atração: www.espn.com.br
Mas vamos direto à explicação de como funciona o esquema para a imprensa por lá. Coisa nada difícil de se fazer por aqui também, basta querer e ter bom senso. Eu não sei exatamente o número de jornalistas credenciados para Barça x Manchester, mas eram muitos, talvez perto de mil. Todos pediram o credenciamento com quase um mês de antecedência, e a Uefa só aceitou quantos Wembley podia comportar. Na tribuna, um espaço individual previamente marcado para cada um, com tomada, wi-fi e até um pequeno monitor de TV. Para a entrevista coletiva, só teve acesso quem tinha um passe especial, ou seja, a sala não ficou abarrotada de gente. Na zona mista após o jogo, áreas separadas para TVs com direitos de imagem, outras TVs, rádio e imprensa escrita. Sem nenhum bicão. Ainda vale citar o simpático e solícito tratamento dos funcionários, sempre dispostos a ajudar.
Coisa bem simples de se fazer por aqui. Não sei se a Conmebol, se o Santos, se a Aceesp, mas certamente alguém tinha que tomar frente e ser responsável por organizar isso. Tem que ter um pré-credenciamento, tem que se fazer uma tribuna provisória para uma decisão desse porte, tem que se fazer um esquema especial para zona mista e coletivas. Na Champions, a Uefa cuida do credenciamento e de todo o esquema para os jornalistas apenas na decisão. Antes disso, em todos os outros jogos do torneio é o clube mandante que tem a responsabilidade de organização, seguindo, claro, os padrões determinados pela entidade que comanda o futebol europeu.

Talvez este post tenha sido mais um desabafo do que um relato das experiências. Acho que as fotos e vídeos explicam melhor do que qualquer palavra a emoção de presenciar essas partidas. Mas fico na esperança de que um dia, quem sabe em breve, as coisas funcionem de uma forma mais correta aqui no Brasil. Faltam só três anos para a Copa do Mundo de 2014, e não adianta nada tudo ser uma maravilha durante o mês do Mundial, e depois tudo voltar ao normal, na base do tal “jeitinho”.
Essa comparação feita entre Libertadores e Champions de 2011 não é um fato isolado. Já estive em seis finais de Libertadores (1999, 2000, 2003, 2005, 2006 e 2011) e em duas de Champions (2010 e 2011), e os fatos são sempre semelhantes. Seja no Parque Antártica, no Morumbi, no Beira-Rio ou no Pacaembu, cada um desses estádios tem os seus pontos positivos e negativos. Mas insisto, a palavra é: organização! Capacidade nós temos. Precisamos evoluir.

Lengendas: 1) Barcelona 3 x 1 Manchester United, final da Champions League 2011, em Wembley, Londres - 2) Santos 2 x 1 Peñarol, final da Copa Libertadores 2011, no Pacaembu, São Paulo - 3) Festa da torcida do Barcelona - 4) Festa da torcida do Santos - 5) Espaçosa tribuna de imprensa em Wembley - 6) Puleiro para os jornalistas no Pacaembu

Vídeos: 1) Comemoração do Barcelona após o título da Champions, em Wembley - 2) Festa da torcida do Santos na final da Libertadores, no Pacaembu



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