terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Jerusalém: a cidade sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos mistura tranquilidade e agitação

Imagine um lugar onde muçulmanos, cristãos e judeus convivem juntos em uma área de 1 quilômetro quadrado. Agora imagine um lugar onde Jesus Cristo, Maomé e Abraão viveram momentos que construíram a história de suas religiões. Imagine ainda que neste mesmo lugar existem militares “desfilando” normalmente nas ruas com metralhadoras penduradas no pescoço. E pense que boa parte dessas militares são mulheres e gostosas. Calma, não acabou. Ao mesmo tempo que existem lugares sagrados e calmos nesta cidade, há muito agito noturno, bares e baladas. E as tais mulheres militares vão pra essas baladas à noite (sem as metralhadoras, claro). Bom, mas mesmo sem as armas, elas gostam de guerra. É, esse lugar existe e se chama Jerusalém. Então, pare de imaginar e dê um jeito de viajar pra lá.
Conflitos políticos e religiosos à parte, a capital de Israel (ou da Palestina? Mas isso será relatado em outro post) é um dos lugares mais intrigantes e interessantes do mundo. Fui para lá em outubro de 2011, durante o mochilão que fiz pelo Oriente Médio. E é justamente essa mistura maluca de culturas que torna o lugar extremamente sensacional e, por sinal, bastante turístico.

Entramos em Israel vindo da Jordânia, pelo Sul do país, e passamos pelo Mar Morto antes de chegar a Jerusalém. Ficamos no Citadel Youth Hostel, na Old City, por três noites (por 60 shekels ou 12 euros a diária), sendo que a primeira delas dormimos no roof, sótão a céu aberto. Boa opção, local com vários mochileiros dividindo histórias. Eu diria que três dias é o mínimo de tempo para se ficar por lá. Tem bastante coisa para ver.
Para conhecer a Old City, nos juntamos a um tour gratuito comum também em algumas cidades da Europa, que durou cerca de três horas e percorreu os principais pontos turísticos (Não sou muito fã de tours guiados, mas neste caso foi uma boa. Além de ter que pagar apenas se quiser e quanto quiser, o guia deu uma explicação resumida dos lugares e mostrou vários pontos que só quem é de lá mesmo conhece. Foi bom para ter uma boa noção da cidade, e depois voltar por conta nos lugares mais interessantes). Vale citar que todas as principais atrações da Old City são gratuitas e podem ser conhecidas a pé.
A Cidade Velha é dividida em quatro bairros: o cristão, o muçulmano, o judeu e o armênio, cada um com suas peculiaridades. A circulação entre os bairros é livre e apenas para pedestres, que se perdem no labirinto deixando a imaginação voltar à vida de milhares de anos atrás. Espalhadas pelas ruelas e becos estão diversas pequenas lojas que vendem souvenirs, produtos e comidas típicas de cada um destes povos, além, é claro, de contar com templos históricos. A região de 1 quilômetro quadrado é rodeada por muralhas, e existem atualmente sete portões de entrada.

Um dos principais acessos é o Jaffa Gate, onde fica o Museu Torre de David. De lá, começa a David Street, que leva aos principais lugares do bairro cristão e se estende até a entrada da Praça do Muro Ocidental. Mas a principal atração desta região é mesmo a Igreja do Santo Sepulcro (Church of Holy Sepulchre), local onde os católicos acreditam que aconteceu a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo.
O bairro muçulmano, que tem como principal porta de entrada o Damascus Gate, é o que abriga a maior população da Old City. Depois de passar alguns dias em países árabes do Oriente Médio, basta uma volta nesta região para relembrar os principais costumes islâmicos e os sons das mesquitas. Apesar de a região ser atualmente muçulmana, é lá que se localiza a Via Dolorosa. De acordo com a crença cristã, foi por este caminho que Jesus fez a Via Crucis, carregando a cruz até morrer.
Já no bairro judeu, o mais rico e com casas mais bem cuidadas, estão diversas sinagogas, como a Hurva, e também o Cardo, um sítio arqueológico descoberto após escavações. Mas o cartão postal da região é o famoso Muro Ocidental (Western Wall), mais conhecido como o Muro das Lamentações. É o local mais sagrado para o judaísmo, único vestígio do antigo Templo de Herodes, destruído em uma das inúmeras batalhas em Jerusalém. Mas lá, além de judeus ortodoxos rezando durante o dia inteiro, também estão turistas (que são obrigados a usar um quipá na cabeça) colocando entre as pedras do muro bilhetea de papel com pedidos e agradecimentos. Para entrar na praça onde fica o muro, é necessário passar por um detector de metais, antes de chegar ao local frequentemente lotado de viajantes e moradores locais dos mais diferenciados tipos e culturas.
O menor e menos atrativo, mas não menos importante, dos bairros é o armênio. Lá fica a St. James Cathedral. Aí vem a pergunta: por que armênio e não russo, japonês, inglês, americano, etc..? Porque a Armênia foi o primeiro país do mundo a aceitar a religião cristã.

Para finalizar as atrações da Cidade Velha, deixei por último o Temple Mount (Monte do Templo), talvez a mais famosa e “curiosa” das atrações. Lá fica o Dome of the Rock (Cúpula da Rocha), tradicional mesquita com a cúpula dourada. O local é o terceiro mais sagrado do planeta para o islamismo, ficando atrás apenas de Meca e Medina. Mas espera aí, como que pode existir um lugar tão importante para os muçulmanos dentro de um país predominantemente judaico e também sagrado para os cristãos. Pois é, às vezes é difícil de imaginar. Eu mesmo não sabia de diversos interessantes detalhes do que acontece por lá. Neste mesmo local, teriam acontecido momentos históricos para três religiões distintas. Para os muçulmanos, foi a partir dali que Maomé teria subido ao céu. Para os judeus, foi onde Abraão teria oferecido seu filho Isaac ao sacrifício. Para os cristãos, foi onde Caim teria matado o irmão Abel.
Depois de muitas disputas, guerras e domínios, quem controla hoje o Temple Mount são os muçulmanos. A entrada para qualquer pessoa não muçulmana (de qualquer outra religião, seja turista ou morador local) só é permitida em restritos horários durante o dia e nunca nas sextas-feiras, sábados e feriados. O controle de acesso é rígido, com militares armados, revista rigorosa, raio-x e é necessário se vestir discretamente (nada de bermudas ou saias curtas).

Lá dentro, além do imponente Dome of the Rock, também fica a Mesquita de Al-Aqsa, mas apenas muçulmanos podem conhecer o interior delas. De qualquer forma, vale bastante a visita por toda a praça, pela área verde do complexo e pela energia do local.
Apesar de tantos lugares a serem visitados na Old City, Jerusalém ainda tem muita coisa a oferecer foras das muralhas. O Monte das Oliveiras, por exemplo, conta com diversas igrejas, a Tumba de Vigem Maria e foi onde Jesus teria feito alguns de seus ensinamentos. No Monte Zion, estão a Tumba do Rei David e o túmulo de Oskar Schindler. Na Cidade Nova, ficam o tradicional Mercado de Mahane Yehuda e o bairro de Mea She`arim, onde se concentram os judeus ortodoxos, sempre vestidos todos de preto, com chapéu e barba longa. Claro, ainda existem na cidade muitos outros museus, igrejas, sinagogas e mesquitas, que podem ser visitadas de acordo com o gosto específico de cada um.

Mas como citado no início do post, Jerusalém também oferece muita diversão para o viajante. Na New City, nas travessas da Jaffa Road e perto da Zion Square estão diversos bares que ficam lotados de jovens durante a noite. A cidade é de fato vibrante, com diversas opções de lazer. E também existem boas baladas que rolam até o amanhecer. Fui à HaOman 17, que fica a uns 15 minutos de táxi do centro. Lugar grande, com música eletrônica e comercial, lotado de mulher, era um dos nightclubs que estava pegando na época. E por falar em mulherada, Israel me surpreendeu positivamente neste sentido. Impressionante o nível das israelenses. O exército do país é sacanagem, as minas “desfilam” beleza vestidas de militar e com uma metralhadora pendurada no pescoço durante o dia. E, à noite, essas mesmas militares estão nas baladas. De fato, elas querem guerra.
Nos posts seguintes, ainda vou escrever mais sobre os conflitos entre Israel e Palestina, a segurança por lá, costumes e curiosidades da região, e também relatos sobre deslocamentos dentro do país, imigração e informações gerais. Além, de Jerusalém, visitei o Mar Morto, Tel Aviv e Belém, lugares bem diferentes um do outro.
Independentemente de sua religião ou intensidade de sua fé, é até difícil descrever a sensação de estar em uma terra santa como esta. Ir a Jerusalém é ver a história do mundo de perto e com os próprios olhos, em determinados momentos até se sentido um pouco parte desta história. Seja você cristão, judeu, muçulmano ou até mesmo ateu, a capital de Israel certamente é um dos destinos mais espetaculares do planeta para se conhecer.

Legendas: 1) Dome of the Rock (Cúpula da Rocha), no Temple Mount - 2) Muro das Lamentações ou Muro Ocidental - 3) Igreja do Santo Sepulcro - 4) David Street, com comércio típico, do bairro cristão da Old City - 5) Vista panorâmica da Old City, a partir do hostel, com Dome of the Rock e Monte das Oliveiras ao fundo - 6) Espetaculares militares israelenses em Jerusalém

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