sexta-feira, 7 de maio de 2010

Amsterdam: dos coffe-shops a Van Gogh, a liberal e vibrante capital holandesa


Confesso que pensei muito antes de escrever esse post sobre Amsterdam, fiquei na dúvida de como abordar sobre a cidade sem passar uma impressão errada. Resolvi escrever sem hipocrisia nenhuma, sem esconder o que de fato é a cidade. Independentemente de o viajante curtir ou não um baseado, vai presenciar isso no dia-a-dia da capital holandesa. Com todo o respeito ao Van Gogh e à Anne Frank, mas os coffe-shops são atrações tão (ou até mais) importantes e procuradas quanto os museus e afins.
Amsterdam é um dos destinos mais manjados dos turistas na Europa, e o lugar é realmente interessante. Muito mais do que pontos turísticos específicos, vale a visita pelo clima proporcionado pelos moradores holandeses e visitantes de todas as partes do mundo. Em uma cidade onde drogas leves e prostituição são liberadas, talvez mais do que em qualquer lugar do planeta se aplica a frase “cada um com seus problemas”. Ninguém está nem aí com o que os outros estão fazendo. Claro, tudo dentro de um limite.

Em abril deste ano, viajei junto com os amigos Camila e Guilherme, ficamos três dias e duas noites por lá, hospedados no hostel Meetingpoint, 18 euros a diária, e bem localizado. Amsterdam não possui nenhum monumento símbolo, como o Big Ben em Londres ou a torre Eiffel em Paris, mas é bem representada pelos diversos canais que cortam a cidade, além das bicicletas espalhadas por todos os lados. Também não pense que você vai encontrar vaquinhas e moinhos, isso apenas muito afastado do centro. Talvez a principal foto que todos tiram por lá seja na frente do painel gigante escrito “I amsterdam”, localizado na praça dos museus (Museum Plein). Além disso, o tour básico de qualquer turista tem como paradas obrigatórias a Dam Square, o Palácio Real, a catedral de Nieuwe Kerk, o mercado das flores, as praças Munt Plein, Leidse Plein, Rembrand Plein e Nieuwe Markt, e o agradabilíssimo Vondelpark, grande área verde da cidade. Já os museus, como a casa de Anne Frank, o do Van Gogh, o Rijksmuseum, entre outros, merecem no mínimo uma passada, já a intensidade da visita depende do gosto pessoal de cada um.
Fizemos uma caminhada por esses principais pontos em dois dias, sem pressa, aproveitando o que mais nos interessava. Uma grande vantagem é que a cidade é bem compacta e todas as principais atrações podem ser alcançadas a pé, ou alugando-se uma bicicleta, o principal meio de transporte por lá. Metrô, trem ou bonde apenas em ocasiões especiais, como ir para o aeroporto ou para a estação de ônibus, por exemplo.

Existem também atrações alternativas, com a cara da cidade, como o Museu do Sexo, o Museu da Maconha e o Heineken Experience, o museu-fábrica da cerveja. Este último, apesar do salgado preço de 15 euros, eu achei bem legal, principalmente para quem não dispensa uma gelada, já que o ingresso te dá direito a duas tulipas da tradicional cerveja holandesa.
Outra atividade que eu recomendo fazer é o Pub Crawl, uma espécie de tour noturno por vários bares e baladas, que existe nas principais cidades européias. Por 18 euros, você se junta a um grupo de dezenas, às vezes centenas, de turistas animados para a noite. O preço inclui a entrada em cinco lugares diferentes (todos ao redor da pulsante Leidse Plein), com vários shots inclusos, pelo menos uma bebida em cada bar/balada e, digamos assim, umas moças querendo aproveitar a vida. Aí, vocês já viram, né. Só não me peçam pra contar detalhes de como foi porque eu não vou me lembrar, mas garanto que vale bem a pena.

Mas voltando ao assunto com o qual iniciei esse post, vou tentar explicar melhor as exclusividades de Amsterdam. A cidade é o paraíso dos maconheiros e os coffe-shops são encontrados em todos os cantos. Neles, você encontra um cardápio com os mais variados tipos de haxixe e marihuana, além de acessórios e coisas do tipo, como o famoso space cake. O mais tradicional e primeiro coffe-shop de lá é o The Bulldog, que possui algumas filiais espalhadas, mas existem diversos outros para todos os tipos de gosto. Independentemente de você fumar, quiser apenas experimentar ou só mesmo observar, entrar em um coffe-shop significa conhecer melhor a cultura local.
Acho que o que vale ressaltar sobre esse assunto é a atitude das pessoas, e a forma como essas coisas são encaradas por lá. No Brasil, a cultura faz quem fuma maconha ser tachado de marginal pela maioria. Na Holanda, mesmo quem não fuma, seja jovem, adulto ou idoso, considera normal quem tem esse hábito. É liberado fumar um baseado em qualquer lugar da cidade, nas ruas, bares, e em muitos hostels. É possível até observar pais e filhos fumando juntos, é a coisa mais normal do mundo por lá. Claro, tudo com bom senso e respeitando algumas regras. Não é permitido portar mais do que 5 gramas, por exemplo. Outro tipo de droga que é liberada na capital holandesa é o cogumelo, um alucinógeno natural (apesar da recente proibição de uma espécie mais forte). Mas vários tipos de cogumelo, "disfarçados" na forma de trufas, são vendidos legalmente nas lojas do ramo.

Outra singularidade de Amsterdam é a liberação da prostituição. Lá, as profissionais do sexo trabalham com carteira assinada, todos os direitos e férias. A Rua Augusta holandesa é o Red Light District, onde as prostitutas se expõem como mercadorias em várias vitrines com luz vermelha, ao longo de ruas e vielas que beiram os canais. O local virou ponto turístico, muitas vezes visitado apenas por curiosidade de quem passa por lá. Para os que quiserem desfrutar dos serviços das moças, elas anunciam que cobram cerca de 50 euros por meia hora.
Bom, seja você careta, liberal, turista de primeira viagem, mochileiro experiente ou qualquer coisa, Amsterdam certamente é uma cidade que deve lhe agradar. O importante é buscar as atrações e atividades que mais combinem com você, sem se obrigar a fazer o que não tem intenção, e sem deixar de fazer as coisas que tem vontade. Seja no museu do Van Gogh ou no coffe-shopp do Bulldog, a visita à capital holandesa ficará eternamente marcada em suas lembranças.

Legendas: 1) Tradicionais canais espalhados por Amsterdam - 2)Damrak, a principal avenida no centro da cidade - 3)Painel símbolo da cidade na Museum Plein - 4)The Bulldog, o coffe-shop mais tradicional da Holanda - 5)Cardápio da loja Magic Mushroom, com os tipos e efeitos das trufas, ou cogumelos)

terça-feira, 4 de maio de 2010

A facilidade de viajar: Marrakesh é logo ali

Uma das primeiras histórias que costumo contar sobre as viagens que fiz é sobre a minha ida ao Marrocos. Ela reflete bem como é prático ir de um país para o outro por aqui, é isso que quero tentar passar nesse post. Vou resumir os imprevistos da minha ida a Marrakesh, que incluíram perda de vôo, parada em Barcelona e alguns euros a mais. O que na hora parecia um pesadelo, transformou-se em mais uma experiência boa.
Com antecedência, eu e mais oito amigos programamos uma viagem de uma semana para o Marrocos, em setembro de 2009. Por motivos diversos, acabamos indo em vôos diferentes para o nosso destino. Eu, junto com João, Maísa e Paraíba, pegaríamos o vôo em uma segunda-feira às 6h30 da manhã.

Saímos de casa de madrugada e pegamos o ônibus até o aeroporto de Stansted, que fica 1h15 ao norte de Londres. Chegamos lá até antes do horário e, como já tínhamos imprimido o cartão de embarque e só tínhamos mala de mão, não precisamos fazer o check-in. Passamos pelo raio-x, apresentamos o cartão ao segurança e entramos direto na área de embarque. Até aí tudo perfeito, faltava pouco para irmos para a África.
Mas, quando já estávamos na fila para entrar no avião, mostro meu passaporte e o cartão de embarque e a mulher diz: “Cadê o carimbo?”. Depois de uma breve discussão e mesmo ainda faltando 20min para o horário do vôo, não teve mais conversa com a simpática britânica. Ela nos mandou de volta para o saguão do aeroporto e disse que teríamos que remarcar o vôo.

O que aconteceu foi o seguinte: a Ryanair (uma companhia aérea que às vezes vende passagens a 1 centavo, mas tenta tirar dinheiro do passageiro de várias outras formas) havia mudado algumas regras. Quem não tem passaporte europeu precisaria pegar um carimbo no cartão de embarque no balcão do check-in. Por falta de atenção, nenhum de nós quatro leu isso e, portanto, perdemos o voo.
A situação inesperada, que já não era fácil, piorou depois que tentamos remarcar o voo. Estávamos na segunda-feira e tínhamos pago 80 pounds no ticket de ida e volta, mas o próximo avião seria só na quarta-feira e teríamos que pagar mais 100 pounds cada um. Ainda tentamos em outras empresas, mas sem sucesso.
O desespero só não foi maior porque o espírito de viajante falou mais alto na hora. Nós quatro concordamos que voltar para casa e viajar apenas na quarta ou desistir da viagem seria frustrante demais. Tínhamos que viajar de qualquer jeito naquele momento. Entrei na internet e comecei a procurar um voo pra qualquer lugar da Europa, que saísse de Stansted ainda naquela manhã, sem um preço absurdo e de onde nós pudéssemos pegar um avião para Marrakesh.
A melhor solução encontrada foi ir para Barcelona (por 120 euros) e no dia seguinte embarcar para Marrakesh (por 60 euros). Os 180 euros de prejuízo que foram muito lamentados no momento, hoje são motivo de risadas. Ainda aproveitamos um dia em Barcelona, visitando os principais pontos turísticos, tomando uma cerveja na praia e indo para a balada à noite, antes de chegarmos ao destino final na terça. Ah, não posso deixar de agradecer ao Paulo, que foi pego de surpresa e hospedou nós quatro no seu apartamento em BCN.

A facilidade de viajar por aqui que me referi no início é exatamente esse fato de pegarmos um voo assim de Londres para Barcelona, como se eu tivesse na rodoviária do Tietê pegando um ônibus para Caraguá. Claro que o gasto foi maior por ter comprado uma passagem na última hora, mas imagine quanto eu gastaria no Brasil nessa situação mesmo pegando um voo doméstico.

Legendas: 1)A imprevista mas sensacional passagem na praia de Barceloneta, em BCN - 2)Voo chegando no Marrocos, um dia depois do previsto - 3)Aeroporto de Marrakesh