terça-feira, 23 de agosto de 2011

Moscou: do comunismo soviético à abertura para o mundo, a surpreendente capital russa


Poucas cidades no mundo são capazes de te surpreender positivamente quando você cria uma grande expectativa sobre ela antes de visitá-la. Moscou é uma dessas e entrou na minha lista de favoritas. Símbolo do comunismo, a capital da Rússia cada vez mais se abre ao mundo e se aproxima da realidade capitalista. Mesmo assim, glasnost (abertura) e perestroika (reestruturação)à parte, ainda conserva muita história, características e a essência da antiga União Soviética. A Praça Vermelha, o Kremlin e a St. Basil Cathedral são um espetáculo à parte.
Fiquei três dias por lá agora em maio de 2011, antes de ir para a final da Champions em Londres. Aproveitei que estava indo para a Europa e peguei uns dias de folga para conhecer um lugar novo. Eu queria um destino diferente dos tradicionais, outra cultura e acabei colocando essa idéia em prática. Paguei 238 libras esterlinas nos voos de ida e volta da BMI de Londres para Moscou, valor mais alto em relação à média dos vôos dentro do continente. No entanto, vale lembrar que as companhias aéreas low-cost ainda não voam para lá, e este trajeto é mais longo, quatro horas de viagem.

Fui com as amigas Suelen e Mariana e ficamos no Godzillas Hostel, por 12 euros (500 rublos) a diária cada um, sem café da manhã. Acomodação boa, organizada e sem nenhum atrativo especial, mas justa pelo preço e a uns 15 minutos de caminhada até a Praça Vermelha. Moscou é uma cidade bem grande, com mais de 10 milhões de habitantes, é a sétima maior do mundo e tem a maior área metropolitana da Europa. Mesmo assim, achei que três dias foi o tempo ideal para conhecer as principais atrações. Claro que se a estada for mais longa é possível aproveitar ainda melhor, mas se houver mais tempo a recomendação é conhecer também São Petersburgo, o que acabei não podendo fazer.

Chegamos ao aeroporto Domodedovo em um sábado pela manhã, pegamos um trem até o centro da cidade (estação Paveletsky) e depois o metrô até a estação (Tsvetnoy Bulvar) mais perto do hostel. Mas o que pode parecer fácil para um viajante frequente não é tão simples assim na Rússia. Acho que dos 37 países que eu conheci até hoje, esse foi o que eu tive mais dificuldade na comunicação. A maioria da população local não fala inglês, em geral, apenas os mais jovens têm o domínio da língua. Isso também acontece em várias outras nações, eu sei, mas onde se fala espanhol, italiano ou francês, por exemplo, o entendimento é muito mais fácil. Para piorar, em raríssimos lugares, apenas nos extremamente turísticos, há informações, placas e sinalizações em inglês. De resto tudo, é escrito naqueles desenhinhos bizarros que eles chamam de letras, também conhecido como alfabeto cirílico. Para quem não tem o conhecimento do idioma, é simplesmente ilegível.
Resumindo, o simples fato de pegar um metrô e trocar de linha se torna uma aventura. Além de tudo estar escrito em russo, a maioria das placas não tem a cor da linha junto. E pedir uma informação nas ruas não é das dez tarefas mais fáceis do mundo. Mas isso também não é motivo para pânico exagerado. A partir do segundo dia você vai se acostumando com a bagunça, fazendo as relações e os símbolos do cirílico ficam um pouco mais parecidos com o nosso alfabeto romano. Dica: tenha sempre a mão um mapa do metrô que tenha o nome das estações nas duas línguas, russo e inglês. Atenção: estações por onde passam mais de uma linha geralmente tem mais de um nome. Por exemplo, a mesma estação chama-se um nome X para a linha verde e outro nome Y para a linha vermelha.
Muita complicação? Bom, vamos ao lado bom do metrô moscovita. Além de ele cobrir praticamente toda a cidade, sendo um meio de transporte bem eficiente, a beleza da arquitetura subterrânea compensa tudo. Estações como Komsomolskaya (hein?!?) e Novoslobodskaya, entre outras, valem a visita.

As principais atrações turísticas estão concentradas ao redor da histórica Praça Vermelha, palco de revoluções no coração da cidade. Lá estão a St. Basil Cathedral (aquela famosa igreja toda colorida), o History Museum (uma imponente construção vermelha), o enorme centro comercial GUM (uma espécie de shopping center com boas opções de lojas e restaurantes), a Kazan Cathedral, o Mausoléu de Lênin e, claro, o Kremlin.
A St. Basil Cathedral é mais interessante e fotogênica por fora do que por dentro, mas se tiver tempo, não custa entrar. O Mausoléu de Lênin é uma visita obrigatória, com a entrada gratuita, tem uma fila às vezes longa, mas compensadora. A impressionante oportunidade de ver o corpo de Lênin embalsamado e em perfeito estado de conservação foi uma das experiências mais marcantes na minha vida de viajante. O corpo do ex-líder do partido comunista russo e ex-chefe de Estado soviético, que morreu em 1924, “simplesmente” está exposto há décadas bem no centro de Moscou para o público em geral ver. A mera observação de Lênin faz você se sentir parte da história. Por ali, do lado de fora, na parede do Kremlin, também estão os túmulos de Stalin e Yuri Gargarin (com os escritos apenas em russo, a identificação fica difícil, vale perguntar no local).

O Kremlin é outro ponto turístico que não se deve perder. A sede do governo da Rússia (por onde passaram Lênin, Stalin, Mikhail Gorbachev, Boris Yeltsin, Vladimir Putin e, atualmente, Dmitry Medvedev), rodeada por imensos muros e torres de proteção, pode ser visitada e possui diversas construções e monumentos em seu interior. Existem algumas opções de tipos de ingressos para o local. Paguei 100 rublos (o que equivale a 2,50 euros e é o preço de estudante, o valor normal é 350 rublos), o que dava acesso à maioria dos lugares, incluindo a Cathedral Square, onde ficam as chamativas igrejas com cúpulas douradas: Assumption Cathedral, Annunciation Cathedral, Archangel Cathedral e The Bell-Tower of Ivan the Great. Os prédios do Palácio do Kremlin e o Senado russo podem ser vistos apenas por fora. Já para conhecer a Armoury Chamber, um museu das armas que retrata a trajetória de antigos czares, paga-se mais 350 rublos (cerca de 8 euros).
Mas os pontos de interesse de Moscou não param por aí. Vale citar o famoso Teatro Bolshoi, conhecido no mundo inteiro como uma das melhores companhias de balé e ópera, além da Cathedral of the Christ the Redeemer, além de outros museus espalhados pela cidade. Agradáveis também são o passeio de barco pelo rio Moscou e a rua comercial Stary Arbat. Para quem gosta de futebol, o estádio Luzhniki também deve fazer parte do roteiro.

Como não poderia faltar, falou em Rússia falou em vodka. E opções de bares e baladas noturnas para “degustar” a tradicional bebida local não faltam. Vale sempre perguntar no hostel onde está bombando no momento, mas o Propaganda é um dos principais clubs de lá e provavelmente um tiro certo se você busca diversão. Assim como em outros lugares da Europa, o Propaganda adota o “face control” na porta. Ou seja, quanto mais cedo chegar, mais garantida é a entrada, já que mais tarde o risco aumenta de o segurança barrar usando algumas das desculpas usuais: não pode entrar de tênis, precisa estar de camisa social, só pode entrar se estiver acompanhado de uma mulher, já está lotado, etc...
Antes de encerrar, uma dica para não gastar dinheiro à toa. Logo que cheguei ao hostel, falaram na recepção que estrangeiros precisavam pagar uma taxa de 400 ou 600 rublos (não lembro exatamente o valor) para fazer um registro na polícia russa. Se fossemos parados por um policial na rua sem esse registro, teríamos que pagar uma multa. Desconfiei, não paguei e até hoje não sei se realmente era verdade. De qualquer forma, apesar dos muitos policiais pela cidade, nunca me pediram nada.
Muita história, cidade vibrante e agradável, clima variado (peguei muito calor e sol em maio, mas o inverno é bem rigoroso, com neve), acesso mais fácil para nós (desde 2010 brasileiros não precisam mais de visto para entrar no país) e, claro, as russas primas da Sharapova... Precisa de mais motivos para visitar Moscou?

Legendas: 1) St. Basil Cathedral - 2) Praça Vermelha, com o History Museum (à esquerda) e a Kazan Cathedral (à direita) ao fundo - 3) Kremlin, visto de ponte sobre o Rio Moscou - 4) Cathedral Square, com as igrejas dentro do Kremlin - 5) Teatro Bolshoi - 6) estação de metrô Komsomolskaya