quinta-feira, 15 de julho de 2010

Espanha campeã do mundo, uma história que começou a ser escrita na Eurocopa-2008


Campeã do mundo pela primeira vez no último domingo, a seleção da Espanha confirmou o bom trabalho que começou a ser feito anos atrás. O título não veio por acaso. O time não foi montado de uma hora para outra. A conquista foi merecida. Não vou fazer aqui uma análise aprofundada sobre o futebol que assisti nessa Copa do Mundo, mas vou escrever um pouco do que presenciei sobre os espanhóis nas últimas temporadas. Infelizmente, não estava presente na África do Sul para ver de perto, mas estive na Eurocopa de 2008, na Áustria e na Suíça, além de ter ido três vezes à Espanha nos últimos dois anos. Assisti no estádio quatro dos seis jogos da Espanha durante a cobertura da Euro. (4 a 1 na Rússia, 1ª fase – 0 a 0, e 4 a 2 nos pênaltis, contra a Itália, quartas-de-final – 3 a 0 na Rússia, semifinal – e 1 a 0 na Alemanha, final).
A final, no dia 29 de junho, em Viena, ficará marcada para sempre na minha vida. Momento histórico. Depois de um dia ensolarado na capital austríaca, que incluiu até um mergulho no Rio Danubio, com os amigos jornalistas Julio Gomes e Alexandre Coutinho, fomos para o estádio Ernst Happel no final da tarde. Assisti ao jogo na arquibancada no meio da torcida espanhola, e o “lo lo lo lo lo lo” durante o hino e os gritos de “a por ellos” não saem na minha cabeça até hoje.
Naquele dia, a Fúria começou a construir definitivamente a história do título mundial de 2010. A vitória justa sobre a poderosa Alemanha, por 1 a 0, transformou os espanhóis de coadjuvantes a protagonistas no cenário mundial. O gol de Fernando Torres e o bom futebol apresentado pela equipe encheram o país de confiança. E confiança _claro que aliada à competência_ , em minha opinião, é fundamental para o sucesso. Não foi a toa que a Espanha assumiu a condição de uma das favoritas da Copa-2010, coisa que não era clara no início da Euro-2008.
Após a decisão contra os alemães, a zona mista do estádio virou palco para a festa. Ainda com o uniforme da partida, os jogadores saíram do vestiário cantando e vibrando efusivamente. Com uma garrafa de champagne na mão, o atacante David Villa molhou diversos jornalistas. Os atletas comemoraram muito junto com repórteres espanhóis, que se abraçavam ainda incrédulos com o feito. Casillas, Torres, Xavi, Puyol, Fabregas e companhia marcaram época. Vale ressaltar o volante brasileiro Marcos Senna, um dos melhores da Euro, mas que acabou ficando de fora do Mundial. Uma opção injusta, no meu ponto de vista. Não se pode esquecer também da exclusão do atacante Raul, que foi bancada pelo ex-técnico Luis Aragonés. Criticado na época pela ala madrilena da imprensa espanhola, Aragonés provou que estava certo em renovar a seleção. Hoje, com Vicente Del Bosque no comando, mas a mesma base de dois anos atrás, a ausência do veterano e antes intocável Raul parece não ser mais lembrada.

Em 2008, durante a competição, me lembro das conversas que tive com torcedores, jogadores e jornalistas espanhóis, que ainda tinham um comportamento contido em relação a um possível triunfo do time. Recordo claramente de uma entrevista com Marcos Senna, logo após a estréia contra a Rússia, uma vitória por 4 a 1, após um dia chuvoso em Innsbruck. Humildade em pessoa, Senna mantinha os pés nos chão, mesmo após a goleada, discurso que foi adotado pelos outros atletas que ouvi ali na zona mista. A explosão de alegria e o ganho de confiança vieram apenas após título. Ou talvez depois da vitória nos pênaltis sobre a temida Itália, nas quartas-de-final. A partir dali, os espanhóis começaram a sentir de fato que podiam ser os melhores do mundo. E acho que esse ganho de confiança, que em excesso muitas vezes pode ser confundida com arrogância, foi essencial para o título na África do Sul.

Depois do título em Viena, senti essa mudança de atitude. Em uma entrevista para a revista “Placar” com o sempre sensato meia Fabregas, do Arsenal, no final de 2008, eu percebi que ele já acreditava de verdade que o título mundial seria possível. Sem ser arrogante, mas demonstrando consciência, ele transparecia confiança nas palavras. Quando viajei tanto para Madri quanto para Barcelona também percebi essa transformação no comportamento dos torcedores. Em maio deste ano, quando fui a Madri cobrir a final da Champions League, vi claramente a empolgação dos espanhóis e a convicção de que levantar a taça da Fifa poderia tornar-se um sonho real. Eles próprios se consideravam favoritos.
Ainda escreverei mais alguns posts sobre essa experiência fantástica durante a Eurocopa. Futebol, jornalismo, trocentas viagens de trem e turismo em diversas cidades austríacas e suíças...

Legendas: 1)Torcida espanhola vibra após o título na final contra a Alemanha, em Viena-AUT - 2)Fabregas comemora após marcar o gol decisivo na disputa de pênaltis contra a Itália, pelas quartas-de-final, em Viena-AUT - 3)Estreia da Espanha contra a Rússia, em Innsbruck-AUT - 4)Vídeo do hino espanhol na final da Euro contra a Alemanha

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Nova York: uma escala providencial na cidade que funciona 24 horas


No meio desta minha temporada européia, uma viagem destaca-se por não estar nem um pouco perto do continente que estou vivendo: Nova York. Sim, a metrópole norte-americana entrou no meu roteiro meio que por acaso. E o melhor de tudo, a passagem aérea foi praticamente de graça. Aproveitando a dica de uma pessoa X que conheci em Londres, comecei a pesquisar voos de São Paulo para Londres com escala nos Estados Unidos. Claro, o deslocamento acaba sendo bem mais demorado, até por isso são poucos os viajantes que fazem essa opção. Por cerca de 100 reais mais caro, comprei meu voo de ida e volta pela Delta Airlines com parada em Nova York, aproveitando as férias que passei no Brasil na virada de 2008 para 2009. Se o intuito é conhecer um novo lugar, vale muito a pena.
Na ida para a Inglaterra, peguei a “pior” escala possível. Geralmente, todos querem esperar no aeroporto o menor tempo. Eu queria esperar o máximo. Com isso, ganhei 14 horas para conhecer a cidade. Claro, vale lembrar que o visto para os EUA é indispensável, coisa que eu já tinha devido a uma viagem anos atrás. Na volta ao Brasil, um ano depois, liguei na Delta, mudei a data do segundo trecho e fiquei quatro dias na Big Apple.

Assim como Londres e São Paulo, Nova York é uma cidade vibrante, sensacional, daquelas que com certeza eu moraria facilmente. Atualmente, acho que não conseguiria viver em um lugar pacato. É difícil me imaginar morando onde não há vida 24 horas por dia. Hoje não tem balada boa porque é segunda-feira? O McDonald`s está fechado porque são 2 horas da manhã? Não tem restaurante japonês por aqui? Se eu sair naquele lugar eu vou encontrar o fulano que não quero? Para tudo. Respeito quem não se importa, mas eu passo longe disso. É apenas estilo de vida. Mas além dessa agitação toda, Nova York oferece uma diversidade de atrações, começando pelos diversos tipos de pessoas de todos os cantos do mundo. Como já diria minha parceira Alicia: “These streets will make you feel brand new”.
Nova York é a maior cidade do país, mas a maioria dos locais de interesse fica concentrada no distrito de Manhattan, o centro econômico e coração da cidade. Muita coisa é possível de se fazer a pé. Porém, um dos maiores sistemas de metrô do mundo, que funciona 24 horas por dia, pode te levar facilmente para pontos mais afastados, incluindo os distritos do Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island.

Na ida, desembarquei em Nova York às 7h da manhã e meu voo para Londres era apenas às 21h. Consegui fazer o check-in e despachar as malas logo que cheguei, então peguei o metro do aeroporto JFK para Manhattan. Era final de janeiro, fazia um frio de 7 graus negativos e NY estava coberta de neve. A cidade inteira estava branca. Apesar de eu quase ter congelado meus dedos do pé, consegui conhecer os principais pontos turísticos em cerca de 12 horas. Esquematizei um tour expresso no pouco tempo que tinha, para visitar os seguintes lugares: ruínas do World Trade Center, Estátua da Liberdade, Bolsa de NY, Wall Street, South Street Seaport, ponte do Brooklyn, China Town, Broadway, 5ª avenida, Empire State, Rockfeller Center, Times Square e Central Park. Foi corrido, andei bastante, mas aproveitei bem. Claro, não tive tempo para entrar em museus, nem para subir no topo do Empire State, por exemplo, coisas que ficarão para uma próxima vez. Vale citar que tudo isso ocorreu no dia 21 de janeiro de 2009, o Inauguration Day, data em que Barack Obama assumia a presidência dos EUA.
Comecei o tour pelo World Trade Center, que hoje é um grande canteiro de obras para a construção das novas Torres Gêmeas. Lugar histórico pelo atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, e triste pelas milhares de vidas que foram perdidas. No local, há tipo um memorial contando a história do WTC e do trágico dia.
Depois, desci até a ponta sul de Manhattan para avistar Estátua da Liberdade. A princípio, minha idéia era apenas tirar fotos dali, por falta de tempo. No entanto, foi frustrante ver o principal monumento norte-americano de tão longe. Então, resolvi fazer o passeio de barco pelo Rio Hudson quase congelado até a ilha onde fica a estátua. Foi uma decisão mais do que acertada. Por 12 dólares e em cerca de 1h30 no total, pode-se chegar ao lado da imponente estátua, além de a ilha contar com um museu e uma vista excelente da cidade.

Na longa e agradável caminhada da ponta de Manhattan até a Times Square, passei por todos os outros pontos citados acima, além de percorrer cenários de filmes e seriados de TV. Neste meio tempo, apenas uma breve parada para um lanche. Para fechar o dia, peguei o metrô até o Central Park, que estava congelado, e de lá voltei para o aeroporto.
Na volta para o Brasil, apesar dos quatro dias em NY, meu tempo dedicado ao turismo foi praticamente zero. Claro que, durante as caminhadas, invariavelmente eu tinha como agradáveis panos-de-fundo os belos arranha-céus nova-iorquinos. Meu objetivo desta vez era fazer compras, aproveitando as vantagens nos preços em relação à Europa e, obviamente, ao Brasil. Além de aquisições pessoais, comprei bastante coisa para vender no Brasil e ganhar um dinheiro. Valeu muito a pena.

Durante esses dias, fiquei hospedado no hostel Tone on Lex, no lado leste da 94º Street, por 18 dólares a diária. Lugar simples, mas seguro, bem localizado e bem freqüentado. Durante o tempo que não estava dentro das Macy`s, Best Buy ou Sports Authority da vida, coisa que eu perdi a paciência logo no segundo dia, ainda houve espaço para rolar uma balada com o pessoal do hostel. Ah, isso era início de dezembro, vale destacar as iluminações natalinas espalhadas pelas ruas, incluindo a gigantesca e tradicional árvore de Natal em frente ao Rockfeller Center.
Moral da história: se você pretende fazer uma viagem do Brasil para a Europa, cheque antes o preço dos voos pelas empresas aéreas norte-americanas e ganhe um bônus no seu roteiro. É uma boa oportunidade de visitar os Estados Unidos quase sem gastar dinheiro.

Legendas: 1)vista da Liberty Island e da Estátua da Liberdade, a partir do barco - 2)Battery Park, na ponta de Manhattan, coberto de neve - 3)Obras no novo World Trade Center, em dezembro de 2009 - 4)Lago congelado no Central Park - 5)Movimentação da agitada Times Square